quarta-feira, 20 de maio de 2009

Quando a educação vira caso de polícia

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Medidas no âmbito policial só fazem agravar a situação da exclusão social 

Fátima Murad
famurad@uol.com.br

O governador José Serra promete um pacote como resposta ao "evento de violência" (para usar suas palavras) ocorrido esta semana em uma escola estadual da Mooca, onde os alunos promoveram uma rebelião em protesto contra a prisão de dois colegas por policiais da Ronda Escolar, acionados pela diretoria do estabelecimento.

A mesma promessa foi feita, e esquecida, em janeiro passado, ainda sob o impacto da depredação de uma escola do Belém pelos alunos no final de 2008.

Pelo que antecipou o secretário da Educação, Paulo Renato, a proposta, elaborada em conjunto com a Segurança Pública, está praticamente concluída, e consiste basicamente em contratar uma empresa especializada em vigilância para instalar câmeras nas escolas e para o monitoramento dos dados. 

Simples assim. Munidos de imagens, os diretores comunicariam imediatamente à Polícia Militar qualquer "movimento estranho" que fosse detectado. 

É possível que, mais uma vez, o pacote fique apenas nas intenções, e que esse "Big Brother" das escolas paulistas seja engavetado como tantas outras promessas de ocasião.

Esse é, aliás, o desejo ardente de muitos educadores: que o tal pacote não vingue.

Em qualquer parte do mundo onde o problema da violência nas escolas é discutido com seriedade, está mais do que comprovado que medidas no âmbito policial só fazem agravar a situação da exclusão social do jovem, e para empurrá-lo de vez no caminho da marginalidade.

O problema é de educação. E só se resolve com mais educação, com profissionais preparados não só para transmitir conteúdos curriculares, mas também para orientar, para mediar conflitos.

Não existem alunos ideais. Existem alunos reais. E é com esses que a escola tem de aprender a tratar.

A atitude do diretor que acionou a Polícia Militar mediante uma denúncia, não comprovada, de que os alunos estavam traficando drogas no banheiro da escola, poderia ser vista como uma demonstração de fracasso.

Curioso é que o governador José Serra, que cursou o ginásio e o científico nessa escola, tenha lembrando nostalgicamente que "no meu tempo não tinha isso". O seu tempo é este, governador! Quem sabe se ao invés de gastar com uma empresa de vigilância não se poderia contratar psicólogos e educadores, mais professores, equipar melhor as escolas?

FÁTIMA MURAD, é jornalista e tradutora, escreve aos sábados na versão impressa do DG.

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