terça-feira, 5 de maio de 2009

Gestão Serra-Kassab destruiu projeto pedagógico dos CEUs

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Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) de São Paulo, criados na gestão da prefeita Marta Suplicy (PT) e que eram referência na área da educação, estão sofrendo as consequências da desorientada gestão Serra-Kassab que, segundo especialistas, não respeitaram o projeto pedagógico original, que vinculava as aulas com atividades culturais e de lazer.



Denúncia foi publicada no Estadão de hoje

Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) foram criados com a proposta de ser um espaço de lazer e esporte a toda a comunidade que mora no seu entorno. O teatro das unidades foi pensado para reunir a maior parte das atividades culturais, como a projeção de filmes, espetáculos de dança, shows e peças de teatro. Os moradores, no entanto, dizem que o número de eventos está diminuindo desde a gestão anterior de José Serra (PSDB) e de Gilberto Kassab (DEM).


“Eu ia muito quando o CEU foi inaugurado. Uma vez por semana, eu assistia a algum filme”, diz a cabeleireira desempregada Raquel Elaine Barbosa, de 36 anos, que mora próximo ao CEU Butantã. A região não conta com nenhum teatro. O cinema mais próximo, no Shopping Raposo Tavares, está desativado para reforma. “E, mesmo assim, o ingresso é muito caro, em torno de R$ 18″, diz. “Antes, você não via nenhuma criança nas ruas durante o fim de semana. Agora, elas ficam chutando latas ou brigando.”


Sua vizinha, Adriana Marilaque Costa, de 32 anos, concorda. “Muitas vezes, o tema dos filmes não interessa e as crianças já os assistiram. O teatro é bonito, grande, cabem 400 pessoas, e tem uma boa estrutura”, diz. Adriana conta que havia uma maior divulgação da programação, até mesmo nos pontos de ônibus do bairro.


Na outra ponta da cidade, no CEU São Mateus, na zona leste, a situação é semelhante. “Muita gente da comunidade nunca tinha assistido a uma peça ou a um espetáculo de dança”, conta Laércio José de Souza, presidente da Associação dos Moradores do Jardim da Conquista. Ele terminou o ensino fundamental no CEU, em 2005. “Eu já assisti aqui a peças com (as atrizes) Tônia Carrero e Regina Duarte e a show com a (cantora) Alcione. Os espetáculos eram tão procurados que os ingressos se esgotavam em pouco tempo. Não era todo mundo que gostava ou entendia espetáculos de dança contemporânea, mas eu assistia a todos. O filme Carandiru, por exemplo, passou aqui antes de estrear nos cinemas”, conta Laércio.


Segundo o líder comunitário, os shows agora são feitos por artistas da própria comunidade, quando querem lançar um CD. “O governo constrói muitos prédios de CEU, mas não dá continuidade ao trabalho que já era feito.”

 

Público das atividades culturais cai 42%

 

A quantidade de pessoas que assistiu a sessões de cinema, peças de teatro, eventos musicais e outras atividades culturais nos CEUs diminuiu 42% na gestão do prefeito Gilberto Kassab se comparada à frequência ao longo da administração de Marta Suplicy. A queda de espectadores ocorreu apesar da ampliação da rede - de 21 para 42 unidades.

 

Entre agosto de 2003 e dezembro de 2004, quando Marta era prefeita, o público em eventos culturais nos 21 CEUs era em média de 165 mil pessoas por mês. Entre agosto e dezembro do ano passado, período escolhido pela assessoria da gestão Kassab, a média numa rede que na época tinha 32 CEUs diminuiu para 96,4 mil.


Os dados de público nas atividades culturais durante a administração de Marta Suplicy foram feitos em 2004 e entregues para a equipe de transição que viria a assumir a Secretaria de Cultura na administração de José Serra (PSDB). Os dados atuais são da Secretaria Municipal da Educação.


A diminuição na grade da programação cultural entre as duas gestões é uma das causas da redução de público. Em 2004, conforme o relatório feito pela equipe de transição, cada unidade dos CEUs tinha nove sessões regulares de cinema por semana, sendo seis para crianças e três para adultos. No ano passado, o cinema nos CEUs teve uma média de 330 exibições gratuitas por mês, o que significa cerca de 2 filmes por semana em cada CEU.


Na programação de teatros infantis, durante a gestão petista, havia oito apresentações mensais em cada CEU: duas sessões quinzenais às quintas-feiras e uma aos domingos. Na gestão Kassab foram realizadas 125 apresentações de teatro, música e circo ao longo de cinco meses nos 32 CEUs, o que não garante uma grade permanente de eventos para as escolas.


''É difícil comparar os dados porque não existe na Secretaria de Educação registro da frequência dos CEUs durante a administração petista. Outro fato importante a ser lembrado é que, quando assumimos, tivemos protestos de pessoas que trabalhavam em atividades culturais e que não recebiam havia meses. Mas o fundamental é comemorar que o projeto está sendo realizado e foi ampliado durante a atual gestão'', defende o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider.


A professora Maria Aparecida Perez, que foi secretária municipal da Educação na gestão Marta, afirma que a atual administração não entendeu o projeto pedagógico dos CEUs, apesar da ampliação da quantidade de escolas na rede. ''Os filmes, teatros e eventos culturais eram ações articuladas com as aulas, que faziam parte do currículo na busca de uma educação que ampliasse os horizontes. Não era mero entretenimento.''


A principal mudança estrutural ocorrida durante as duas gestões foi a mudança da responsabilidade de autoria da programação cultural dos CEUs: na gestão de Marta, era feita pela Secretaria da Cultura; quando Serra assumiu, a programação passou para as mãos da Secretaria da Educação, situação que permanece na gestão atual.


Na Agenda 2012 de Kassab, entre as metas da educação programadas até o fim da gestão, nada consta em relação ao aumento de atividades culturais nos CEUs. Mas Schneider garante que quer levar mais eventos para a rede, principalmente por meio de parcerias.


Originalmente pensados para atender as escolas municipais do entorno e a comunidade local, com o papel de dinamizar a cultura em bairros com poucas opções de lazer, além da missão pedagógica, os CEUs correm o risco de virar simples ''escolões'', afirmam os críticos. ''Um prédio grande e lindo não funciona sozinho. Tem de ter gente com projeto trabalhando nele. Não adianta ter o hardware sem o software '', diz Mirca Bonano, coordenadora cultural na gestão petista.


Celso Santiago, responsável pelos CEUs na Secretaria da Educação, diz que a atual administração busca contato mais próximo com a comunidade para saber os eventos que ela quer nas escolas. ''Estamos descobrindo o gosto e as preferências das populações de cada região. A intenção é avançar.''


Fonte: O Estado de S. Paulo

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