Uma provocação policial da Polícia Militar por pouco não fez com que a pacífica passeata do 8 de Março-''Fora Bush'' degenerasse em tragédia. A tropa de choque da PM usou gás lagrimogêneo, spray de pimenta, balas de borracha e cassetetes contra um dos maiores atos do Dia Internacional da Mulher na Avenida Paulista, deixando várias pessoas seriamente feridas. Aos três meses e oito dias de mandato, o governador do estado, José Serra (PSDB), rasgou a máscara e mostrou a que veio.
Manifestante é agredido: truculência serrista A pancadaria começou por volta das 17 horas, quando a passeata das Mulheres e do ''Fora Bush!'' – em protesto contra a presença do chefe da Casa Branca na cidade – chegou à Avenida Paulista. Eram mais de 20 mil pessoas, segundo os organizadores, ou apenas 5 mil, conforme o capitão Benjamin Francisco Neto, comandante da PM. Rapidamente, os guardas armados apenas com cassetetes deram lugar aos brutamontes da Tropa de Choque, que investiram contra a multidão, soltando bombas.
Uma perna coberta de sangue
Uma mulher ficou com a perna direita ferida por estilhaços de bomba na altura do Museu de Artes de São Paulo (Masp). Ela estava na pista sentido Consolação quando foi ferida. Sentada com as costas apoiadas ao Masp, chorava e olhava para a perna coberta de sangue do joelho para baixo. O ex-deputado Jamil Murad (PCdoB-SP), que viu a cena, socorreu a mulher e a levou ao Hospital das Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, em um táxi.
O presidente da UNE, Gustavo Petta, foi ferido na perna, no cotovelo e nas costas, por estilhaços de uma bomba de efeito moral, além de ter a camiseta rasgada.''Se a polícia já tinha detectado que havia provocadores infiltrados, por que agiu como agiu? Eu estava tentando garantir o caráter pacífico do ato e fui tratado deste jeito...'', argumentou o dirigente da UNE.
O fotógrafo Caetano Barreira, da agência britânica Reuters, que trabalhava na manifestação, foi atingido por um golpe de cassetete no nariz. Outro golpe da polícia feriu Pedro Pinheiro, de 20 anos. Também foram presos pelo menos quatro manifestantes. Um manifestante foi ferido com uma bala de borracha na barriga.
Provocação policial premeditada
Foram mobilizados o 7º, 11º e 13º Batalhões da Polícia Militar. Mas os policiais não portaram identificação, em mais uma demonstração do caráter premeditado da provocação.
Por um instante, armou-se um início de confusão, agravado por um defeito no caminhão de som que organizava a manifestação. Jovens indignados com a brutalidade tentaram reagir com os frágeis paus das bandeirolas e faixas que portavam. Logo as bombas de gás forçaram um recuo da multidão, enquanto a polícia investia sobre o vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), tradicional centro de protestos na cidade, que estava cheio de gente.
Os manifestantes recuaram, mas não cederam à provocação. Cordões humanos logo foram improvisados, para conter a investida policial. Os oradores começaram os discursos, a multidão se concentrou para escutá-los e a calma retornou à Paulista.
Policial chuta manifestante caído e desarmado
José Serra é o responsável
Porém o aparato repressivo não havia acabado sua provocação. Imediatamente, dois helicópteros da PM começaram a sobrevoar o local. Um deles vicou vários minutos parado, atrapalhando com seus rotores o transcorrer da manifestação pacífica.
A responsabilidade pela truculência policial deste 8 de Março recai sobre o governador José Serra. A bem da justiça, São Paulo não tinha assistido uma cena de tamanha selvageria policial-militar nas gestões dos antecessores de Serra, Cláudio Lembo, do PFL, Geraldo Alckmin e Mário Covas, do PSDB. O episódio lembrou ações como o Massacre da Freguesia do Ó e a repressão à greve metalúrgica do ABC em 1980, durante a ditadura militar.
Janaína Lemos, 21 anos, estudante na PUC-Campinas, declarou: ''Não vivi na época da ditadura, mas agora posso imaginar como foi no passado. A passeata resultou em confronto por culpa da polícia do governo Serra, que está despreparada e acima de tudo não quer entender a causa do povo''.
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