sábado, 9 de maio de 2009

Azenha - A crise agora é do povo. Ele que se dane

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por Luiz Carlos Azenha

O desemprego nos Estados Unidos chegou a 8,9%, a taxa mais alta desde 1983. Foram perdidos 539 mil empregos em abril. O número oficial de americanos desempregados é de 13,7 milhões.

Voltamos a testemunhar, agora, um fenômeno que já vimos em outras praças, especialmente quando a "moda" era pregar privatizações na América Latina. Quantas centenas de artigos elogiosos ao Chile não foram publicados nos anos 80 e 90, especialmente quando se tratava de pregar a idéia -- absurda -- de que um país daquele tamanho poderia servir de exemplo para o Brasil? É óbvio que aqueles artigos nunca tocavam numa questão política central ao "sucesso" chileno: a ditadura de Pinochet passou um trator sobre os movimentos sociais e os sindicatos antes de transformar o país em um laboratório neoliberal.

A reforma da Previdência no Chile foi apontada como exemplo para o Brasil. Hoje sabemos que a privatização da Previdência chilena fracassou e exigiu intervenção do estado com dinheiro público, depois de enriquecer alguns.

O "exemplo" seguinte foi o México. Estou procurando as reportagens que definiam o México como exemplo a ser seguido pelo Brasil. Trata-se do caso mais acabado de uma profunda transferência de bens públicos para meia dúzia de empresários, que trataram de assumir o controle do país em aliança com interesses políticos e econômicos externos.

Para 100 milhões de mexicanos, hoje em dia, há dois caminhos: o narcotráfico ou a imigração para os Estados Unidos. Com a crise econômica nos Estados Unidos, o futuro é sombrio para quem pretende atravessar a fronteira. A militarização do combate ao narcotráfico é cortina de fumaça para reforçar o poder de Felipe Calderón. O México é a próxima Colômbia. Uma situação que pode ficar ainda mais dramática se considerarmos as informações de que a produção de petróleo mexicano atingiu o pico e entrou em decadência.

Quando eu morava nos Estados Unidos, lá atrás, me lembro claramente da cobertura que se fazia sobre o Brasil, especialmente no Wall Street Journal. Quando o governo de turno em Brasília era dócil e aceitava pagar direitinho os juros da dívida externa, o Brasil era um país "maravilhoso", ainda que as notícias de jornal contrastassem completamente com a realidade que eu, nas férias, via nas ruas do país. Toda a cobertura considerava apenas os dados macroeconômicos. Povo? Que povo?

Agora tenho a mesma sensação ao acompanhar o noticiário sobre a crise nos Estados Unidos. A bolsa de Nova York está em recuperação. Os bancos tiraram o pé da lama às custas de dinheiro público. "Acabou a crise", ou "está acabando a crise". O povo? Que se lasque.

Porém, a médio e longo prazos, há duas implicações nisso: nos Estados Unidos as crises econômicas têm consequências políticas profundas. Quando se mexe no bolso do americano, sai de baixo. Além disso, hoje ninguém mais leva a sério a mídia corporativa. Os americanos estão conscientes de que as medidas governamentais priorizaram o salvamento dos banqueiros, em detrimento do cidadão comum. É este, afinal, quem paga com a taxa recorde de desemprego.

E a segunda implicação é que 2/3 da economia dos Estados Unidos giram em torno do consumidor. Com o desemprego em alta ele deixa de gastar. Deixa de emprestar. E a economia estanca. Faz sentido, portanto, a observação de que, quando o efeito dos trilhões de dólares jogados no mercado pelo governo federal passar, o sistema financeiro ficará novamente frágil, diante da inadimplência de financiamentos de automóveis, cartões de crédito e da falta de novos negócios.

Enquanto isso, observem como os Estados Unidos, na mídia, estão em franca recuperação. O povo vai mal? Ele que se dane. O que é o desemprego se a bolsa está em alta?

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Fonte: Viomundo - Luiz Carlos Azenha

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