quinta-feira, 21 de maio de 2009

Emir - O dia em que a PETROBRAS deixou de ser BRASileira

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Dia 26 de dezembro de 2000, um dia depois do Natal, o povo brasileiro foi surpreendido por mais uma medida antinacional do governo FHC. Coerente com a máxima de FHC de que “ia virar a página do getulismo no Brasil” – sem o que o neoliberalismo não seria possível – o presidente da Petrobrás, Henri Philippe Reichstul, anunciou que a empresa estava mudando seu nome comercial para PetroBrax. Segundo ele, o objetivo seria “unificar a marca e facilitar seu processo de internacionalização” (sic) (FSP, 27/12/2000). Afirmou ele que “a medida ganhou na semana passada o aval do presidente Fernando Henrique Cardoso”.

Segundo Alexandre Machado, consultor da presidência da Petrobras, a operação custaria à empresa 50 milhões de dólares, para realizar um projeto da agência paulista de design Und SC Litda, “contratada sem licitação”, segundo o presidente da Petrobras. “Um dos argumentos favoráveis – relata a FSP – foi que o sufixo “bras” estaria, internamente, associado à ineficiência estatal.” “No front externo, um dos argumentos para a mudança da marca é de tirar a associação excessiva que o nome Petrobras tem com o Brasil . Segundo Norberto Chamma, diretor da Und, que apresentou a nova marca ontem para jornalistas, a desvinculação é importante para que a empresa não seja obrigada a arcar com os ônus dessa ligação.” (sic)

A direita subestimou a capacidade de resistência do povo brasileiro, submetido a tantas afrontas no governo tucano, que este pensou que ele estava anestesiado. (Uma coluna do próprio jornal FSP diz que o jornal subestimou a reação popular contra a medida.) Mas a operação durou apenas algumas horas. Apesar da tentativa de pegar o povo distraído pelo período entre Natal e Ano Novo, em dois dias o governo teve que retroceder da sua vergonhosa tentativa de preparar a maior empresa brasileira para “facilitar seu processo de internacionalização” – não há melhor confissão da intenção de privatizá-la, de que a venda de ações na Bolsa de Nova York foi um passo concreto. O país estava submetido à nova Carta de Intenções do FMI, depois da terceira vez que o governo tucano de FMC e de Serra havia quebrado nossa economia e havia indícios claros que a privatização da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil faziam parte das contrapartidas dos novos empréstimos que o FMI concedia ao governo de FHC.

26 de dezembro foi um dia da vergonha nacional, com essa tentativa fracassada de tirar o nome do Brasil da Petrobras, para tirar a Petrobras do Brasil. Sabemos que FHC estava totalmente de acordo. Seria bom saber onde andavam e que atitude tomaram os que agora dizem se preocupar com a Petrobras. Que posição teve, por exemplo, José Serra diante dessa ignominiosa atitude do governo a que ele pertenceu? E as empresas da mídia e seus funcionários colunistas?

E que atitude tomaram os senadores, agora tão interessados nos destinos da Petrobras, ao subscrever o pedido da CPI, quando a existência mesma da empresa estava em jogo?

O senador Álvaro Dias talvez estivesse ocupado com a defesa dos processos por uso da cavalaria da PM contra professores ou preparando algum dossiê falso contra adversários políticos, ou tentando se defender das acusações de crime contra a administração pública, movidas pelo SupremoTribunalFederal.

Já o senador Artur Virgilio talvez estivesse tentando organizar sua defesa da acusação de envolvimento com prostituição infantil de que foi acusado ou preocupado em libertar o filho, preso por desacato e pornografia .

O senador Cicero Lucena talvez estivesse preocupado com o processo do Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha e desvio de verba.

O senador Eduardo Azeredo, fundador do mensalão mineiro, poderia estar preparando já seu projeto de lei que quer censurar a internet.

O senador Flexa Ribeiro talvez estivesse às voltas com o que depois foi revelado como sendo a inclusão do seu nome na “folha de pagamento” das empreiteiras.

Já o senador Marconi Perillo poderia estar preocupando-se pelo que o Ministério Publico Federal encontraria como irregularidades em seu governo, pedindo sua cassação.

O senador Tasso Jereissatti poderia estar às voltas com viagens em um do seus jatinhos, por conta das verbas do Senado, que ele consideraria “legais”.

O senador Efraim Morais poderia estar ocupado com a nomeação de algum dos seus 52 parentes que tem no seu gabinete.

Ou com a investigação do Ministério Público Federal sobre o que, uma vez apurado, se tornaria seu envolvimento em esquema de propinas no Senado, junto com o senador Romeu Tuma. 

O senador Heraclio Fortes poderia estar preocupado com o caso de corrupção do Zoghibi, tentando esconder sem envolvimento.

Já o senador Jayme Campos poderia estar às voltas com o que viria a ser denunciado como sua participação no inquérito sobre sanguessugas.

O senador José Agripino poderia estar em contato com empreiteiras, segundo acusações de doações “por fora” de que foi objeto.

A senadora Katia Abreu poderia estar manifestando seu apoio aos escravagistas do Pará.

A senadora Maria do Carlo Alves poderia estar envolvida com o que se configurou depois como acusações de caixa dois.

Já o senador Jarbas Vasconcelos poderia estar gozando dos 17,3 mil reais mensais desde 1992, sem trabalhar.

O senador Pedro Simon poderia estar tomando a mesma atitude que tomaria diante da corrupção do governo de Yeda Crusius: silêncio total. 

O senador Geraldo Mesquita poderia estar utilizando os salários que os seus funcionários lhe acusam de que lhes roubou. 

O senador Mão Santa poderia estar ocupado em algum contato com Camargo Correa, da qual foi acusado de receber propinas.

O senador Romeu Tuma poderia estar preocupado com aquilo de que mais tarde foi acusado, de participação em esquema do Senado.

O senador Mozarildo Cavalcanti poderia estar ocupado em atividades que mais tarde seriam denunciadas como crimes contra a administração pública.

Poderiam os senadores que convocaram a CPI estar ocupados nisso. Mas o certo é que estavam centralmente ocupados em apoiar o governo que tentou privatizar a Petrobrás, que fez um balão de ensaio no dia 26 de dezembro de 2000, teve que recuar, e agora tenta voltar à carga, no momento em que se discute a nova regulamentação da exploração do petróleo e todo o processo do pré-sal. Une suas atuações um profundo sentimento de desprezo pelo que é brasileiro, pela que a Petrobrás representou e representa para o país.

Por isso precisam ser repudiados, na mesma lista dos políticos que resistiram à fundação da Petrobras, aos que quebraram o monopólio do petróleo e aos que desprezam o que representa a Petrobras para o Brasil. Defender hoje a Petrobras é defender o Brasil, de hoje e de amanhã.
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Fonte: Blog do Emir Sader

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