quinta-feira, 16 de abril de 2009

Para aqueles que amam a privatização

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Cratera da Privatização da Telefonia

Para que não caia no esquecimento, vamos registrar como foi a privatização da Telefonia. As operadoras de telefonia são as campeãs de reclamações nos PROCONs. Essas reclamações são retratos do desmantelamento da telefonia no país. A telefonia sofreu um processo de sucateamento desde antes da época das privatizações das teles.

Desde que as operadoras atuais assumiram, o único objetivo é lucrar. Lógico, há algum investimento, afinal as operadoras não podem parar, ou matam a "galinha dos ovos de ouro". Elas fazem de conta que estão preocupadas com a qualidade do serviço prestado (e a Anatel, órgão fiscalizador, faz de conta que controla a qualidade).

Lembro muito bem, no JN em 1998, o Serjão afirmando que a privatização era necessária, para modernizar a rede de telefonia fixa. Nós, como fabricantes, já contávamos com nossos equipamentos mais modernos nas operadoras. Às vezes, equipamentos que ainda não existiam no resto do mundo, já estavam em operação no Brasil. Cobaias de tecnologia? É verdade, mas a tecnologia mais moderna estava presente.

E o Serjão vinha dizendo que a rede de telefonia era ultrapassada, que necessitávamos privatizar para permitir o avanço, para permitir que outras empresas entrassem no Brasil, para trazer divisas, para trazer equipamentos mais modernos, para permitir redução nos preços devido à maior competição. O que ocorreu com o Serjão? O Serjão dividiu a Telebrás em 4 áreas. As Teles foram vendidas a preço de banana.

Os preços negociados não pagavam nem o patrimônio existente, quanto mais o negócio em si, tudo funcionando e rendendo. Ou seja, um negócio de pai para filho. Com financiamento do próprio pai a juros baixos. Negócio assim, até eu quero.

[...]

As vendas somaram por volta de 11,9 bi de dólares, que era aproximadamente o valor do faturamento anual das empresas. Ainda assim, a afirmação do governo na época é de que houve um ágio de 63% (valor recebido com ganho de 63% em relação ao valor mínimo pedido). Existiram boatos que a Embratel foi vendida sem dívidas e com 3 bi em caixa. Será que dá prá acreditar? Não encontrei fonte sobre o assunto.

O que é esse patrimônio que foi "vendido" a um baixo preço?

- Prédios da administração.
- Prédios dos equipamentos.
- Os equipamentos de telefonia e equipamentos de transmissão.
- Os equipamentos de processamento de dados.
- Toda a rede de distribuição.
- Os técnicos especializados (conhecimento, know-how).

Somente para ilustrar, explicando para leigos:

- Os equipamentos de telefonia, que chamamos de "centrais telefônicas" são onde os telefones fixos são conectados. São grandes computadores (alta capacidade de processamento) ou rede de computadores, que realizam o processamento das chamadas (reconhecimento dos dígitos discados), realizam o encaminhamento das chamadas, tarifação por pulso e por minutos e o armazenamento de toda a base de dados dos assinantes (facilidades e características especiais que o assinante possua), além das estruturas de gerência dos vários equipamentos existentes na operadora.

- Os equipamentos de transmissão são equipamentos que conectam as várias centrais telefônicas da mesma operadora ou de outras operadoras, da mesma cidade ou entre cidades, estados e países. A transmissão é feita por cabos, ondas de rádio (entre localidades diretamente ou via satélite) ou fibra ótica.

Observe que a estrutura é muito complexa. Por isso, o valor de patrimônio é alto, principalmente pela tecnologia envolvida.

Se você se lembra, o valor mensal da assinatura era um preço ridículo (R$0,61 em 1994 ou 1995) antes da privatização. O preço dos impulsos era muito baixo, na ordem de 2 centavos por pulso. Hoje, para se conseguir uma linha é barato, mas paga-se um preço alto pela assinatura e pelo uso. Ou seja, aquele valor que pagávamos uma vez, na aquisição, hoje pagamos mensalmente, na assinatura, como se fossem juros e correção monetária.

E o tempo de espera de adquirir uma linha diminuiu? Diminuiu. É quase imediato. Cresceu o número de linhas disponíveis? Até que cresceu, mas cresceu pouco, porque neste mesmo período cresceu a disponibilidade dos telefones móveis (celulares). O celular não tem taxa de adesão e a assinatura mensal é pouca coisa mais cara, além de proporcionar a mobilidade. Não estou mais preso à minha casa. Vou onde quiser com meu telefone.

E os equipamentos de telefonia? Continuam os mesmos de 8 anos atrás, com poucas alterações. Ah! Mas as operadoras investiram muito dinheiro em rede de computadores. Sabe para quê? Para dar melhor capacidade de serviço à área de faturamento. Essa não foi terceirizada.

As "operadoras" não são mais operadoras de telefonia, elas são administradoras. Todos os serviços são terceirizados. A operação e a manutenção dos equipamentos, que são a razão de ser da operadora, são terceirizados. O Telemarketing (que liga para vender serviços e produtos) e o Call Center (que recebe as reclamações) também são terceirizados. Os coitados dos atendentes nem conhecem os equipamentos ou serviços que tentam vender.

Você entende agora o porquê dessa bagunça em nossas contas telefônicas? Tudo terceirizado, como no modelo da cratera do metrô de SP e das crateras nas rodovias em todo o país. Se sua conta apresentou algum erro e você tem de ligar para o Call Center, caia na real. Infelizmente, você caiu na cratera da telefonia brasileira.
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Fonte: Luiz Carlos Azenha - Viomundo

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