>
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), viu-se constrangido nesta sexta-feira (27) a trocar o comando de mais uma importante secretaria de seu governo. Dez dias após a demissão do secretário de Segurança, Ronaldo Marzagão, agora é a vez da secretária de Educação, Maria Helena Guimarães, deixar o posto. Ambos alegaram “motivos pessoais” para a demissão, mas não é segredo para ninguém que as duas secretarias vinham enfrentando uma série de problemas que, ao lado de outras mazelas do governo Serra, estavam dinamitando a imagem de “bom administrador” que o tucano tentava vender para a opinião pública com vistas às eleições de 2010.
A demissão de Maria Helena Guimarães de Castro foi confirmada na manhã desta sexta-feira (27). Serra disse que Maria Helena continuará como coordenadora técnica da pasta, que será assumida pelo deputado federal Paulo Renato de Souza (PSDB-SP). O governador usou metáforas futebolísticas para definir a parceria entre Paulo Renato e Maria Helena, iniciada quando o deputado foi ministro da Educação de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Maria Helena era secretária executiva do ministério.
"Vai ser como (Carlos Alberto) Parreira e (Mário Jorge Lobo) Zagallo em 1994. Ele é o técnico e ela é a coordenadora técnica", disse Serra, que chamou Paulo Renato de "craque da educação", mesmo ele tendo sido apontado pelas entidades estudantis como o pior ministro da Educação que o país já teve. O governador também elogiou a ex-secretária, salientando que ela fez um trabalho excelente e uma "revolução" na educação de São Paulo.
Mas as palavras de exaltação de Serra não guardam nenhuma relação com a realidade da educação no Estado. Pelo contrário, é justamente a insuficiência dos resultados alcançados na área que contribuiram para a demissão da secretária.
Maria Helena Guimarães de Castro assumiu a secretaria em 25 de julho de 2007, de lá pra cá não conseguiu alterar as péssimas condições da educação no Estado.
O ensino fundamental da rede estadual de São Paulo avançou pouco no último ano, segundo dados divulgados pelo governo do Estado. O Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) dos alunos de 1ª a 8ª série aumentou menos de 3% entre 2007 e 2008 e sequer chegou a nota 4, numa escala de 0 a 10. O cálculo do indicador leva em conta o desempenho dos estudantes numa prova feita pelo governo, o Saresp, e a quantidade de alunos na série correta para a idade.
Foram avaliadas 5.183 escolas de São Paulo. 59,5% das escolas de 1ª a 4ª séries não atingiram as metas do ano passado. O percentual é de 55,2% entre as escolas de 5ª a 8ª série.
Maria Helena também enfrentou uma das maiores greves de professores já realizada. A paralisação durou quase um mês. Os professores eram contra a mudança no material didático, nos critérios de bônus recebidos pelos profissionais do setor e o corte de benefícios como o Adicional Local de Exercício.
Mas a gota d´água para a demissão, segundo informações do próprio Palácio dos Bandeirantes, teria sido o escândalo provocado pela distribuição de livros de Geografia com mapas errados a alunos das escolas estaduais. No mapa, apareciam dois Paraguais, um deles no lugar do Uruguai. O Equador tinha desaparecido do mapa. A Secretaria chegou a informar que não trocaria o mapa e que havia posto a correção no site da Fundação Vanzolini, responsável pela edição. Para entrar no site, era preciso ter senha.
Em artigo publicado no site da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), a presidente da entidade, Maria Izabel Azevedo Noronha, diz que “a secretária (de Educação, Maria Helena Guimarães) protagoniza, desde o início de sua gestão, uma cadeia sucessiva de erros. Ela tem demonstrado grande incompetência e nenhuma capacidade de leitura da realidade da rede estadual de ensino, se colocando sempre acima desta realidade, como se tudo pudesse ser explicado pelo inexplicável.”
Com os olhos em 2010
A escolha de Paulo Renato para chefiar a educação é, ao lado da escolha de Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento, uma clara operação de Serra para turbinar seu governo e fortalecê-lo para a disputa interna do PSDB, na qual buscará se cacifar como candidato presidencial em 2010.
"Ele tem mais peso político para as eleições de 2010", disse Maria Helena sobre Paulo Renato, confirmando a estratégia política do governador.
O problema de Serra é que áreas sensíveis como segurança e educação, por exemplo, não se resolvem com mera troca de gestores, mas sim com uma nova visão de administração e com políticas públicas avançadas que, até agora, parecem não fazer parte do script do governo tucano.
Segunda troca em dez 10 dias
Marzagão se demitiu do cargo após denúncias de corrupção envolvendo policiais civis e militares. Mas tanto Guimarães quanto Marzagão não deixaram suas respectivas secretarias por problemas isolados, e sim pelo "conjunto da obra".
Marzagão enfrentou nada menos que 10 crises em sua pasta desde que assumiu o posto. Entre os escândalos e denúncias que mancharam sua gestão está o pagamento de propinas entre policiais civis, ligação da polícia com a máfia dos caça-níqueis, uma longa greve de policiais civis que terminou em confronto com a Polícia Militar na porta do Palácio dos Bandeirantes, a descoberta de grupos criminosos integrados por policiais e a suspeita de que gente da cúpula da segurança estaria envolvida com esquemas de extorção e venda de cargos na polícia, entre outras denúncias.
>
Fonte: Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário