segunda-feira, 2 de março de 2009

FHC, ''preocupado'', insiste em ''fulanizar'' com Serra já

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece meio preguiçoso em seu artigo mensal publicado neste domingo pelo Estado de S. Paulo. Divaga em ''comentários despretensiosos'' antes de chegar ao ponto – as últimas instruções para a oposição conservadora. ''As oposições'', esclarece o mestre, precisam ''sensibilizar o eleitorado''. E isso ''requer 'fulanizar' a disputa'': ou seja, nomear rapidamente José Serra como presidenciável tucano em 2010, sem as prévias reclamadas por Aécio Neves, é o que o ex-presidente não ousa escrever.Por Bernardo Joffily

O título é pomposo: O gesto e a palavra. Mas quem se acostumou a achar alguma espessura nos textos do sociólogo Fernando Henrique de outrora espanta-se com a preguiça intelectual (dizer macunaímica seria uma injustiça para com o herói de Mário de Andrade) dos ''comentários despretensiosos''.
FHC divaga sobre Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez vitorioso no referendo do mês passado, aos quais compara a Chacrinha. Menciona Churchill, Roosevelt, Obama (o ''discurso de pregador'', a ''invocação da fé''), Getúlio Vargas e Jarbas Vasconcelos. Só quando o leitor já se exaspera diz a que veio.
O ''enigma'': ''Que discurso fazer?''
''Me preocupa o que possa vir a ocorrer no Brasil'', confessa o ex-presidente mais rejeitado da história das pesquisas de opinião no país. Ocorrer quando? Em 2010, claro; faz tempo que FHC só pensa, só fala e escreve naquilo. E ele não se deixa enganar pela aparente vantagem de seu candidato José Serra, a 18 meses da votação.''
A mídia e a sociedade cobram um discurso de oposição. Diz-se, e é certo, que ela deve unir-se se quiser vencer. Mas que discurso fazer?'', indaga-se FHC. Eis o que ele chega a chamar de ''enigma''.
O ''enigma'' é que ''tanto o modelo Chacrinha como o do discurso de pregador chegam à alma das pessoas''. Enquanto, deixa subentendido nas entrelinhas, a oposição não chega.
Aqui o sociólogo desperta de seu sono profundo para abrir um parêntese: ''Não estou dizendo que a comunicação política se resolve pela supressão do discurso analítico. Isso seria rendermo-nos à ideia da política como mistificação'', adverte o FHC cerebral.
Porém em seguida o sociólogo adormece outra vez e o político FHC assume o teclado: ''Mas quando se dispõe de um ícone, como o Plano Real, por exemplo (ai, que saudades de 1994...), ou quando o próprio candidato é um ícone, tudo fica mais fácil''.
A partir daí o ex-presidente perde de vez a compostura: ''A comunicação emotiva requer 'fulanizar, a disputa para atribuir ao candidato virtudes que despertem o entusiasmo e a crença. Sem eles, a 'caixa de entrada' das mensagens da sociedade continuará a dar o sinal de estar cheia e os ouvidos continuarão moucos aos conteúdos, por melhores que sejam. Pior ainda se não os tivermos. Mas só eles não bastam. Programa político só mobiliza a sociedade quando é vivido por intermédio do desempenho de personagens que tratam como próprias as questões sentidas pelo povo'', conclui.
Em resumo: Serra já. É duvidoso que o governador paulista tenha sucesso nesse papel de pregador ou animador de auditório. E está claro que o governador mineiro não pretende se deixar atropelar sem prévias por alguma ''Santíssima Trindade'' do tucanato. Mas FHC não poderia ser mais enfático, embora não possa tampouco ser mais explícito, sob pena de queimar sua tese.
A racionalidade do povo
O ex-presidente subestima a racionalidade dos brasileiros enquanto cidadãos e eleitores. Quando eles votaram FHC, em 1994 e 1998, enganaram-se porém seguindo um raciocínio solidamente cerebral, amparado em evidências tão concretas como os frangos e iogurtes que o Plano Real colocava em suas mesas. Quando o Real mostrou-se ilusório e o FMI retornou, os brasileiros com a mesma cartesiana racionalidade voltaram as costas para FHC e sua turma.
Hoje, Lula galga píncaros de popularidade graças a esse mesmo, racionalíssimo raciocínio dos brasileiros. O ícone é forte apenas porque projeta uma realidade bem concreta para a maioria dos cidadãos e eleitores. O que agrega alguns excelentes motivos para o ex-presidente se preocupar com o que possa vir a ocorrer no Brasil.
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Fonte: Vermelho
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Opinião PIG 2010: "O desespero de FHC é grande, a sede pelo poder deixa o tucanato cego. Agora que alguns sinais da economia se tornam positivos, a torcida da oposição por uma tragédia vai se esvaziando, e o tal discurso que a oposição deve tomar se torna cada vez mais irreal. Qual discurso? O da privatização? O de como ser socorrido pelo FMI? O de como comprar parlamentares em busca de um terceiro mandato?"

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