FARES AKRAM
DO “INDEPENDENT”, EM GAZA
A quinta-feira foi o mais sangrento e violento dos dias na Cidade de Gaza. Mas mesmo em meio ao sangue derramado e ao caos que nos cerca, estamos repletos de alegria.
Doze dias depois de meu pai ser morto por um ataque aéreo israelense, nasceu nossa primeira filha, com 3,8 quilos e ótima saúde. Mal pude acreditar nos meus olhos, quando a vi pela primeira vez.
Na noite de quarta-feira, enquanto Alaa estava em trabalho de parto, houve alguns sinais de esperança quanto ao final do conflito. “Talvez nosso bebê e a paz cheguem juntos”, pensei.
Mas, durante a noite, os israelenses reforçaram seus ataques, dirigidos a uma área da cidade conhecida como Tel al Hawa, que definitivamente não é um baluarte do Hamas.
Alaa estava muito assustada diante da perspectiva do parto e, para tornar a situação ainda mais apavorante, o bombardeio era audível quando entramos no táxi que nos levou ao hospital Shifa.
Eu sabia que o parto demoraria muito tempo; os médicos tiveram de induzi-lo. Por isso, fui até a entrada do hospital, onde as ambulâncias continuavam a chegar. Vi oito feridos removidos de um caminhão de bombeiros; os feridos eram todos trabalhadores da defesa civil, identificados por casacos fluorescentes. Era uma visão terrível. A maioria dos feridos tinha as pernas decepadas abaixo do joelho e apresentava cortes severos por estilhaços.
Na ala de emergência do hospital Shifa, as ambulâncias chegavam sem parar. A maioria das vítimas pareciam ser mulheres, meninas e crianças, entre as quais um bebê muito pequeno envolto em cobertores brancos. Todos os dias foram ruins, desde que a guerra começou, mas aquele era o pior.
Fomos removidos de nossa casa no começo desta semana, e em seguida o apartamento foi seriamente danificado por explosões. Já não sinto que estejamos seguros nem no hospital.
Só espero que o nascimento de Somaya venha acompanhado pelo final da violência e da matança. Para nossa família, se não para o resto de Gaza, o nascimento dela é como uma luz brilhando no escuro.
Comentário
Como diz Sharon, Israel cuida melhor de suas crianças.
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Fonte: Luiz Nassif Online
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