quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Israel se enterra

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As cenas são indizíveis. O horror se espalha pelas telas de computador e de televisão do mundo, nas páginas dos jornais expostos em bancas, nas capas das revistas, pelos corações e mentes da humanidade inteira, despertando um sentimento de revolta que vai crescendo e que, em muitos casos, já se transformou em ódio. Conheço pessoas que jamais souberam diferenciar quem é quem no Oriente Médio ou que jamais se interessaram por nada sobre aquela região proferindo execrações horrorizadas contra “os judeus”. Esse povo está se transformando no fantasma do mundo, na besta que povoa os pesadelos da humanidade.
Minha neta viu o telejornal e ficou com medo dos israelenses que apareciam com os rostos pintados de negro em seus uniformes militares camuflados, armados até os dentes. Ela tem sete anos e entendeu perfeitamente que eles são os monstros que estão dizimando aquela gente toda estropiada. Horrorizou-se ao ver fotos de crianças da idade dela – e até menores do que ela – amontoadas em carroças como se fossem trouxas de roupa suja.
Por mais que se queira, é difícil para qualquer pessoa mentalmente sadia não sentir vontade de odiar “os judeus”. Qualquer propositura de análise de que os judeus não são todos monstros, mas parte de um complexo jogo de interesses políticos e manipulados em seu pavor diante do cerco de muçulmanos que os odeiam com toda força com que se pode odiar a quem nos destroça as vidas, tal propositura é vista como cumplicidade com o regime assassino israelense.
Pelo mundo, legiões de pessoas de todas as raças, de todos os credos, de todas as classes sociais e até da imprensa – que, constrangida pelo tsunami de indignação, tem que divulgar as imagens e os detalhes sórdidos do morticínio perpetrado por Israel, a quem sempre protegeu –, todas essas multidões saem pelas ruas furiosas, indignadas, horrorizadas, violadas em seu mais profundo senso de humanidade, de decência...
Israel, olimpicamente, ignora tudo, repetindo versões que já se tornaram mantras – sobre os mísseis que o Hamas atira sobre seu país –, e vai cometendo cada vez mais erros, pois luta contra o tempo, haja vista que as eleições se aproximam e aqueles tidos pela maioria da população como suficientemente desumanos para atacarem com mais ferocidade ainda – ou seja, a extrema direita israelense – despontam como claros vencedores, o que obriga os atuais ocupantes do poder a darem declarações frias, impassíveis e a demonstrarem “método” na chacina.
O governo israelense tenta provar ao eleitorado que pode ser mais desumano que a extrema direita e que planejou detidamente os castigos que ora impõe, e trata de fazê-lo rapidamente, não só por conta das eleições, mas também por conta da posse de Barack Obama, no próximo dia 20.
A meu ver, o governo de Israel se aproveita do restinho do governo sanguinário de George W. Bush porque teme que sob Obama não receberá aval para praticar seu estelionato eleitoral sangrento com vistas às próximas eleições. No entanto, o silêncio do novo presidente americano já lhe causou perda de popularidade, pois ninguém mais acredita que ele fará alguma coisa pelos palestinos estropiados até a alma, até porque já se diz que não sobrará nada deles até que Obama assuma o cargo.
Por outro lado, o Hamas vai se tornando o único grande vencedor do massacre – não dá nem para dizer que há guerra, nem mais com os mísseis de festim do grupo radical islâmico, que não conseguem produzir uma única cena de horror entre os israelenses.
Vi, nestes dias, uma reportagem na televisão que mostrava “o sofrimento dos dois lados do conflito”. Acho que foi na Globo. Enquanto as imagens mostravam crianças palestinas empilhadas mortas, com seus rostinhos de anjo, olhos abertos e sem luz, todas dilaceradas, em cenas de cortar o coração mais empedernido, enquanto via as mulheres, crianças, velhos e homens correrem desesperados por ruas em ruínas, um grupo de israelenses corria, sorridente, para um abrigo antiaéreo numa marina de luxo, com restaurantes, etc., à beira de um rio em Israel.
Como, diante desse verdadeiro, legítimo genocídio alguém pode falar dos mísseis que o Hamas continua atirando continuamente sobre Israel? E a total ineficácia dos mísseis do grupo político-militar islâmico ainda se torna outro argumento para confirmar a desproporção entre as forças de um lado e de outro e entre a quantidade de mortes que cada um é capaz de provocar.
Torna-se absolutamente inviável perguntar por que o Hamas não pára de atirar mísseis sobre Israel nem com seu povo sendo esfacelado, pois até já se defende que as forças palestinas continuem lutando.E tampouco alguém consegue perguntar se os palestinos em fuga pelas fronteiras ou se os que tentam fugir e não conseguem não acham melhor se entregarem todos de uma vez aos israelenses, povo e Hamas. Não dá para tirar as cenas de horror da cabeça. Não importa por que o Hamas continua mandando mísseis inócuos sobre Israel. Afinal, pelo menos assim pode-se tentar matar alguns israelenses...
Mas será que o Hamas se entregar não daria pelo menos um tempo ao mundo para se articular, para interromper a matança por um tempo a fim de as partes sentarem-se à mesa de negociação?
Ninguém quer saber desse assunto. Não dá para pensar. O horror das imagens faz corações baterem mais forte, estômagos se contorcerem, as pessoas sentem engulhos. Chega a ser desumano até com os meros e distantes espectadores. Eu mesmo derramei lágrimas diante da cena de três crianças... Bem, foi uma cena terrível, que jamais esquecerei. Apenas lembrar já é doloroso.
Enfim, Israel se enterra a cada dia. E quando Obama assumir, encontrará os corpos fumegando, convocará alguma conferência de paz que dificilmente dará certo, ao menos no momento, e já assumirá o governo daquele país escangalhado pela crise econômica em débito próprio com seu compromisso de campanha de melhorar a imagem de seu país diante do mundo, pois o repúdio aos EUA explodiu junto com o repúdio a Israel. O silêncio que Obama pretendeu estratégico, foi pior do que ter tentado passar a conversa no público, como os políticos sabem tão bem fazer.
Obama só tem uma chance de melhorar sua imagem: terá que enquadrar Israel e até agir de moto próprio para ajudar a transformar a faixa de Gaza num lugar decente e seguro para aquele povo viver. Isso se tiver pretensão de ajudar seu país de alguma forma e de não ver seu governo acabar antes de começar. Aliás, de não expor os EUA à possibilidade de pagar, junto com Israel, o preço desse crime contra a humanidade que está sendo cometido. Aliás, se formos analisar o sentimento do mundo hoje em relação a americanos e israelenses, se ocorresse um outro 11 de setembro, tenho certeza de que bilhões de pessoas pelo mundo afora simplesmente adorariam.
No fim, praticamente todos perdem. Israel, EUA e seus povos fatalmente serão alvo, em algum momento futuro, de algum ataque avassalador. A vingança, naquela parte do mundo, no Oriente Médio, é prato que se come bem frio e bem, bem tarde. Muitas vezes, quando ninguém mais se lembra do que a provocou. Os palestinos, o povo, nem se fale. Ninguém perdeu mais do que eles. Quem pode ter lucrado, até agora, foi o Hamas. Conseguiu, em sua estratégia militar, colocar o planeta inteiro contra Israel. Está vencendo o conflito de lavada.
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Fonte: Eduardo Guimarães - Blog Cidadania.com

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