domingo, 25 de janeiro de 2009

Delito de opinião

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O maestro John Neschling tinha contrato até 2010. O seu salário foi estabelecido de comum acordo com os que o demitiram agora. Ou seja, a demissão não está motivada pelo salário, como justificam alguns. Até porque a ruptura de contrato (Serra é aficionado em romper contratos) vai provocar seguramente indenizações com custo superior, sem falar no salário de outro maestro de renome.

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A carta de FHC é clara quando justifica a abrupta demissão por causa de declarações de Neschling, ou seja trata-se bem de delito de opinião. Se nas suas entrevistas Neschling tivesse falado bem do processo de escolha do seu substituto, não teria sido demitido. Se tivesse falado bem do governador Serra, continuaria no cargo. Ele deu sua opinião e provocou a revanche dos atingidos pela crítica. Delito de opinião mesmo.

Alguns comentários criticam o temperamento do maestro e outros não gostam do seu jeito de dirigir. Temperamentos caracteriais não são raros no meio artístico, particularmente entre regentes. Karajan tinha reputação de ditatorial e Toscanini também. Bernstein era um doce. Não estou comparando Neschling com esses gênios, estou simplesmente constatando um fato.

A OSESP ganhou renome internacional sob a direção de John Neschling. O maestro e a orquestra serviam ao ufanismo tucano, como se fossem eles os que regiam, mas viraram intolerantes quando foram questionados abertamente pelo regente.

Não estou defendendo o temperamento de Neschling, não estou reivindicando sua direção musical, nem justificando remunerações. A demissão do maestro é por ter aberto a boca e criticado publicamente a condução de FHC, os caprichos de Serra e as escolhas de João Sayad. Direito dele que deveria ser defendido mesmo pelos que discordam de sua maneira de reger, seu temperamento e seu salário.

Luis Nassif tinha contrato com a TV Cultura, o contrato expirou e não foi renovado. Nassif tinha virado desafeto de José Serra. Salomão Schwartzman, crítico contumaz de Lula, tinha contrato com a Rádio Cultura e seu programa uma importante audiência. Salomão teve que levar sua voz para outras emissoras. Na TV Gazeta, na TV Cultura e na Rádio, o controle passou a ser cada vez maior e ninguém apita contra o governador do Estado. Se ele dá ordem até nas redações de jornais independentes, imaginem nas que estão sob seu controle via o governo do Estado de São Paulo?

Esqueci, a mídia anda dizendo que José Serra virou um unificador, um pacificador e até um serrinha paz e amor. Neschling que o diga. 

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Fonte: Blog do Favre

Opinião PIG 2010: "A blindagem da mídia transforma a besta em um anjinho."

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