sábado, 14 de fevereiro de 2009

Os obstáculos para Serra chegar lá

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À primeira vista, o governador de São Paulo, José Serra, vive uma situação confortável como potencial candidato à Presidência da República em 2010. Lidera as pesquisas em todos os cenários sobre a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Faz um governo bem-avaliado. Tem dinheiro em caixa para investimentos. Possui laços fortes com o grande empresariado –o que é fundamental para o financiamento de campanha.
Mas esse conforto é apenas aparente. Serra anda tenso. Deseja ser ungido logo o candidato do PSDB, mas o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, não aceita fato consumado e quer uma disputa em prévias pelo país. Se a escolha fosse hoje, Serra venceria. Mas a que custo?
Em 2006, ele ficou com medo de concorrer contra Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão (2005). A divisão do partido pesou e alimentou o temor de disputar. Cedeu a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A história é conhecida. Lula venceu.
Serra não pode tratorar Aécio. Se o fizer, o governador poderá cruzar os braços no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que fez em 2002. Principal articulador da candidatura de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deseja que Aécio apoie logo Serra. E deseja mais: que o mineiro seja candidato a vice-presidente na chapa do colega de São Paulo. Por ora, Aécio resiste.
Serra sofre também embaraços externos. Qual será o seu discurso de campanha? Ele se aproximou do presidente, com quem tem tido boa parceria administrativa. Vai falar mal de Lula em 2010? Poderá ouvir do presidente que até outro dia o tucano frequentava o Palácio do Planalto e o elogiava.
A crítica de Serra à política monetária (juros altos) do Banco Central não é unânime nem no seu partido. Ainda que fosse, renderia votos? O que Serra mudaria na política econômica? Essa mudança teria apelo eleitoral? Há fundadas dúvidas a respeito desta última indagação.
Qual será o discurso na área social? Vai manter o Bolsa Família, mas com melhoras, procurando uma “porta de saída”, para usar um chavão? Isso o atual governo já promete que fará. Por que o eleitorado confiaria na oposição para melhorar o Bolsa Família e não em um candidato da situação? Enfim, há um monte de perguntas no meio do caminho de Serra.
Enquanto o PSDB está dividido e não tem um discurso de campanha consistente, Lula usa a crise como oportunidade para lançar medidas que podem render dividendos políticos à sua provável candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Nessa toada, o presidente tem boa chance de viabilizar a vitória de Dilma.
Há ainda a contradição de ser um político com cabeça de centro-esquerda com uma base de centro-direita. O DEM, antigo PFL, é o aliado preferencial do governador paulista. Lula e o PT adoram associar o PSDB ao PFL, numa jogada retórica para dizer que se trataria de uma volta ao passado (governo FHC). Quando Serra atribui alguma manifestação dos movimentos sociais a interesses políticos-eleitorais, faz um discurso conservador. Criminalizar os movimentos sociais não combina com um político de centro-esquerda, mas é música aos ouvidos de políticos de centro-direita.
Outro problema: a administração de Gilberto Kassab começa a patinar. Não se sabe se o prefeito paulistano entregará as principais promessas da campanha municipal de 2008. Serra será cobrado pelo desempenho de seu afilhado político.
Por último, vem o famoso temperamento de Serra. O desejo obsessivo de ser presidente ajuda por um lado, mas atrapalha por outro. Ele tem procurado demonstrar mais jogo de cintura. Melhorou a relação com a imprensa. Aproximou-se de desafetos –integrar Geraldo Alckmin ao secretariado e se aliar a Orestes Quércia são exemplos disso. Mas ainda mantém uma certa tendência autoritária a querer controlar o noticiário, a tentar evitar perguntas embaraçosas, a editar jornais, rádios e TVs.
Não faltam obstáculos para o favorito Serra chegar lá.

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Fonte: Kennedy Alencar - Folha

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