segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A educação paulista

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Do Blog do Nassif

Conversei com duas pessoas com ampla experiência com a educação paulista.
Ambas, envergonhadas com o episódio do teste feito pela Secretaria da Educação de São Paulo, que expôs de forma ampla a decadência do ensino paulista. Nada contra o teste em si, dizem elas, mas com o fato de se saber, a priori, o desastre que seria e da Secretaria da Educação jamais ter atacado a base desse desastre, que é a preparação dos professores.
Ambas entendem que a decadência do ensino paulista – e brasileiro – começou com a proposta da educação continuada. Não com a proposta em si, mas com a maneira como foi implementada.
O objetivo da proposta era claro. O estado perdia muito com os repentes, por isso os diretores e professores teriam que fazer de tudo para evitar a repetência. Mas o “fazer de tudo” significava prover o aluno das ferramentas necessárias para aprender e passar de ano com mérito.
Para que isso fosse possível, a rede pública teria que ser aparelhada com formas de suplementação do estudo, treinamento aos professores. E, principalmente, o propósito da educação continuada teria que ser explicitado de forma clara e abrangente. Nada disso ocorreu.

É proibido repetir

Na ponta, a mensagem que chegou foi outra: está proibido repetir aluno. O resultado foi um desastre, com o desinteresse dos professores em ensinar, sem ter como avaliar. Ensinar para quê, se a única forma de avaliação – as provas que poderiam levar ou não à repetência – tinham sido abolidas. Sistemas de ensino como o Senac e o Senai se depararam com muitos professores contratados que tinham absoluta certeza de que a repetência estava proibida.
Na área estadual, o desastre começou com a primeira Secretária a implementar o modelo, Rose Nebauer. A obra foi finalizada com Gabriel Chalita.
O segundo ponto – apontado aqui por uma das senhoras – é que a base estava podre. E, por base, entenda-se a preparação dos professores. Passou-se a exigir cursos de Pedagogia. Imediatamente proliferaram esses cursos por tudo quanto é universidade privada, das Uninoves às Bandeirantes da vida.
Para não atrapalhar o andamento dos cursos, a maior parte das faculdades não exige experiência em aula. Os alunos saíam formados sem noção alguma de pedagogia, sem experiência de aula.
Em muitos casos, as professoras saíam semi-alfabetizadas. A senhora que possui maternal e primário disse que precisou ensinar todas as suas jovens professoras o que era dar aula. E, a muitas delas, precisou ensinar o português. Muitas vezes, alunos recém-alfabetizados acabavam corrigindo a professora em aula.

O MEC e o Conselho Estadual de Educação

Hoje em dia, o único sistema não privado que mantém um mínimo de qualidade em São Paulo é o SESI. Tanto que para conseguir uma vaga é uma briga – o que demonstra que as famílias e os alunos sabem da importância de educação de qualidade.
Aí entra o papel o Ministério da Educação e dos Conselhos de Educação. Uma delas, apesar de ter participado da campanha de Paulo Renato para deputado, diz que o seu período foi de completo abandono de qualquer veleidade de trazer qualidade ao ensino. Interessavam apenas as estatísticas quantitativas de número de aluno na escola.
Lembro-se de ter conversado no final do governo FHC com Jocimar, o grande educador, membro da equipe do Paulo Renato. O MEC havia, finalmente, desenvolvido uma nova sistemática de avaliação, para medir a qualidade do ensino. Mas isso quando o governo já estava no fim.
Depois, a situação melhorou, diz essa professora. Nos últimos anos, o MEC passou a distribuir recursos para treinamento dos professores. No entanto, praticamente desmontou a Delegacia de Ensino em São Paulo.
Com isso, as faculdades só são vistoriadas a partir de denúncias de alunos ou professores. Deixou-se todo um sistema mercantilista solto, sem maiores exigências de aprimoramento.
Outra peça essencial – o Conselho Estadual de Educação – foi completamente aparelhado nos últimos 8 anos. O Conselho tem 24 membros. Há um representante da USP, outro da Unicamo e Unesp, representantes de diversas organizações de ensino – mas sempre o diretor geral ou dono (que se preocupa com o negócio), e não o responsável pedagogo. Além dos donos de escolas, os demais estão loteados por indicações políticas, modelo que começou no governo Alckmin e foi mantido no governo Serra.
Educadores de verdade, diz ela, existem poucos. Um deles é o professor Kassab, pai do atual prefeito Gilberto Kassab.
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Fonte: Luiz Nassif Online

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