Quem conhece bem o governador de São Paulo, José Serra, diz que ele nada tem de impulsivo. Cerebral e determinado, Serra agiu de caso pensado e escolheu o seu lado quando mandou a Polícia Militar jogar bombas e atirar balas de borracha nos grevistas da Universidade de São Paulo (USP). O ex-presidente da UNE, nos idos de 1964, e provável presidenciável tucano em 2010, quer provar a seu eleitorado conservador que aquilo foram pecadilhos de juventude.
Por Bernardo Joffily
Serra visto por Luc Gilberstein
Algum dia algum sociólogo ou politicólogo se debruçará sobre essa curiosa e muito brasileira peculiaridade camaleônica de nossa direita conservadora: apresentar candidatos viracasacas, egressos do campo da esquerda.
Assim foi com o ex-presidente Fernando Henrique, que flertou com o marxismo, exilou-se durante a ditadura e colaborou com o semanário alternativo Opinião, antes de se tornar o presidente da privataria neoliberal. Assim é com o governador paulista, que presidiu a UNE como militante da AP (Ação Popular), discursou no célebre comício de 13 de março de 1964, pressionando pelas reformas de base de João Goulart, e também conheceu o exílio.
A lista incluiria o vice de Serra no Palácio dos Bandeirantes, Alberto Goldman, ex-PCB, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). E seria longa – numa mistura de mimetismo esperto e confissão de que a direita no Brasil oculta sua verdadeira cara.
Porém o hoje distante passado de Serra (como o de FHC e dos outros citados) não o impede de ''ter lado'', como diria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No caso, o lado da carcomida oligarquia que, no Brasil, sempre considerou a questão social como um caso de polícia.
Serra aparentemente nem se apercebe da aberração que foi o envio da tropa de choque da PM na terça-feira (9) para espancar funcionários, estudantes e professores em greve dentro do campus da USP, por ordem de um ex-presidente da UNE. Seu passado de líder estudantil em nada estorva seu presente de governador truculento e presidenciável do conservadorismo.
Balas de borracha, bombas de efeito moral e gás de pimenta são o seu discurso diante da greve. Até parece que se inspirou no presidente do Peru, Alan Garcia (outro viracasaca!...), que dias antes enviou sua polícia atirar de helicópteros contra uma manifestação de indígenas amazônicos, no massacre de Bagua.
Em contraste com Serra, o governo Lula inaugurou no Brasil uma atitude sem precedentes diante dos movimentos de massas, radicalizando um comportamento que apenas se esboçou nas gestões de Juscelino (1956-1960) e Jango (1960-1964). Sua marca, reconhecida até pelos movimentos sociais mais críticos, é a acessibilidade, o diálogo e a tolerância no tratamento dos inevitáveis conflitos de interesses.
Esta é uma das perguntas cruciais que o eleitor brasileiro provavelmente será chamado a responder na eleição presidencial de 3 de outubro de 2010. O Brasil vai prosseguir no caminho inaugurado por Lula? Ou retrocederá aos métodos que Serra exibiu?
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Fonte: Vermelho
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