Atualizado em 14 de novembro de 2009 às 00:18 | Publicado em 13 de novembro de 2009 às 23:30
por Luiz Carlos Azenha
O Viomundo defende a tese de que não se faz campanha eleitoral sem "cojones".
"Cojones", ainda que interpretado como algo sexista, significa que é preciso atritar.
Criar atrito, partir para dentro, não fugir da raia.
Houve um blecaute? Na minha casa, sim, embora alguns leitores deste site ainda acreditem que foi uma alucinação coletiva. É preciso pedir desculpas -- como fez Dilma -- e contextualizar. Houve blecaute, sim. Infelizmente. Vamos investigar. E vamos aperfeiçoar o sistema. Mas o incômodo de um blecaute não se compara ao incômodo de um apagão duradouro. É preciso dizer isso. Um, para lembrar as pessoas do racionamento de FHC, especialmente do fato de que ele se deu em um quadro de falta de investimento governamental no setor e de sucateamento da infraestrutura. Dois, para atiçar eleitores novos, que só viveram o blecaute de 2009 mas não o racionamento de 2001 e 2002, a buscar informação sobre o passado.
No racionamento de 2001 minhas filhotas, por exemplo, eram adolescentes que nem prestavam atenção no mundo da política. Hoje, ambas são eleitoras.
Quanto a pedir desculpas, é "in". Num mundo em que poucos assumem responsabilidades, o político que pede desculpas é visto como "sincero".
Mas também é preciso explicar, contextualizar, comparar e lembrar, sempre.
O eleitor não é idiota, ele simplesmente não viveu como muitos de nós a ditadura militar, por exemplo. Quem não teve a experiência política sensorial -- ou seja, esteve lá fisicamente -- exige um convencimento intelectual muito maior. Daí a importância do didatismo. E de não fugir de assuntos aparentemente espinhosos. Numa sociedade midiatizada como a nossa, é preciso confrontar diariamente os temas que interessam à opinião pública.
O Viomundo também afirmou -- e reafirma --, que FHC ofereceu aos governistas uma oportunidade de ouro. Ele se colocou no centro do debate político e, portanto, deu a Dilma a oportunidade de taxar os tucanos de representantes do passado, do século 20, da antiguidade. A ministra deu sinais de argúcia ao atritar o rolando lero de FHC e aquele papo-aranha de subperonismo. Até parece que Dilma lê o Viomundo. Dilma pendurou FHC no pescoço de Serra e pôde se apresentar como candidata da "continuidade renovada".
"Continuidade renovada" atende a dois tipos de eleitores. Aqueles que realmente gostaram 100% do governo Lula -- dentre os quais eu não me incluo -- e aos que, muito jovens, querem um governo do século 21 para um país do século 21. Dilma já tem grande apelo junto a esse eleitor pelo simples fato de ser mulher. Acho que ela, sabiamente, guarda essa carta na manga: um apelo direto às mulheres brasileiras, às mães e às donas-de-casa: "É hora de levar uma mulher ao Planalto".
Mamãe, que em tese é muito conservadora para votar em Dilma, atenderia a esse apelo. Dona Lourdes, de 85 anos, acha que chegou a hora de uma mulher mandar no Brasil. As filhotas, também, desde que a mulher represente o século 21: feminista, feminina e pragmática.
O que me leva à tese final defendida pelo Viomundo: esqueçam a dicotomia esquerda/direita dos anos 60. Que falem os revolucionários, os anarquistas e os etapistas. Os eleitores hoje são "concretistas". Quantas famílias o Luz para Todos atendeu? Como o Bolsa Família impulsionou o mercado interno? Quantas famílias terão acesso à casa própria através do Minha Casa, Minha Vida? Vamos aos números. Aos exemplos. Aos dados concretos. Esqueçam o onanismo ideológico.
O eleitor está disposto a pagar imposto -- acreditem -- se ele acreditar que o imposto pago por ele está melhorando a vida do país e, portanto, a vida dele próprio. Podem chamar de capitalismo solidário, capitalismo do século 21, o diabo. Se você explicar que o imposto está sendo bem usado e que acaba revertendo em um benefício social generalizado, o eleitor compreende. Por que? Porque os tempos são, relativamente, de vacas gordas. Qual é o pai que, diante dos filhos, nega que seja bom "ajudar os outros", ainda que o faça de forma hipócrita? É preciso fazer o eleitor se sentir bem, se sentir útil, se sentir maior que um simples átomo social, isolado -- se sentir parte de uma comunidade. As pessoas podem se dar ao luxo de exibir a solidariedade como um trunfo pessoal. Altruismo está na moda. Chamem de Capitalismo Solidário. É o mote.
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Fonte: Viomundo
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