terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Zelig, o zelador

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FERNANDO DE BARROS E SILVA – Folha SP

SÃO PAULO – Enchentes, bairros alagados, trânsito, ruas repletas de lixo, redução da merenda escolar, aumento do IPTU. Não causa surpresa, a quem acompanha a vida da cidade, que a popularidade do prefeito Gilberto Kassab tenha caído.
O tombo foi até pequeno. O Datafolha registrou que a aprovação (bom/ótimo) ao governo recuou de 45%, em março, para 39% em dezembro; a reprovação (ruim/péssimo) passou de 23% para 27%.
Fica, como cartão postal da gestão Kassab neste final de ano, a imagem do bairro pobre submerso, as pessoas lutando na água infecta para salvar o resto dos pertences de uma vida. A prefeitura passou dias sem tomar nenhuma atitude, custou a perceber o que estava em jogo.
O drama do Jardim Pantanal talvez simbolize, como nenhum outro, não apenas o descaso com os mais pobres, mas o desmanche daquele que parecia ser aos olhos do eleitor, pobre ou rico, o principal atributo do prefeito: o de ser uma espécie de “zelador” que cuidaria da cidade.
A ideia, explorada na campanha eleitoral, de que Kassab, uma vez submetido ao teste do poder, já havia se mostrado capaz de zelar pelas pessoas e de fazer as coisas funcionar, foi pelos ares (ou pelo rio).
Cria de José Serra, o prefeito demo-tucano nunca esteve associado à imagem de um inovador, um formulador, um estrategista, uma figura de visão histórica. Pelo contrário, adaptou-se a um perfil deliberadamente modesto, de líder menor -zelador das coisas práticas. A obediência ao padrinho funcionava como selo de garantia do boneco de vento (lembre-se do Kassabão inflável) que iria ser reconduzido à administração, desta vez pelo voto.
Egresso do malufismo nos anos 90, fã declarado de Lula na campanha de 2008, marionete de Serra, Kassab tem sido um Zelig da política. Sua plataforma eleitoral era uma bricolagem pragmática de coisas herdadas, a começar pelo CEU de Marta Suplicy. Neste ano, o prefeito enfim mostrou a sua cara. Alguém precisa chamar o síndico.

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