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por Emir Sader, no Correio Brasiliense
O governo Lula é um horror, dos piores que o Brasil já teve. Surfou na estabilidade monetária que FHC implantou, nas políticas sociais que dona Ruth havia iniciado e numa situação internacional favorável para, com sorte, ter ventos favoráveis. Ainda assim, o Brasil cresceu menos do que a China e outros países emergentes, não aproveitou tudo o que podia naquela conjuntura. Ai chegou a crise, Lula subestimou-a, demorou para tomar medidas, apesar disso seguiu aumentando o gasto publico, quando deveria incrementar o ajuste fiscal, diminuir as despesas da administração, suspender ou cancelar os prometidos aumentos de salários dos funcionários públicos, suspender ou cancelar obras do Pac — em suma, reimpor a austeridade fiscal que FHC implantou.
O governo aparelha os cargos públicos, usa empresas estatais como a Petrobras para financiar projetos do PT e da CUT, acoberta a corrupção do PMDB para tê-lo como aliado nas eleições presidenciais de 2010, lança uma candidata sem experiência política, faz campanha em torno das realizações do governo.
O governo privilegia alianças com os países pobres — da América Latina e do Sul do mundo —, prefere ser líder dos atrasados, ao invés de privilegiar alianças com os países desenvolvidos. Faz concessões a países vizinhos como a Bolívia, a Venezuela, que desenvolvem políticas populistas, afetam nossos interesses, colocam em risco a democracia nesses países — como o que ocorre com a imprensa privada na Venezuela ou com os estados da meia lua na Bolívia.
Essas cantilenas ouvimos e lemos todos os dias nos jornais, rádios e televisões. Podem parecer coerentes a alguns. Mas somente 6% da população, mesmo em tempos de crise econômica, apoia essas posições. Baixíssima produtividade dos que produzem e reproduzem essas cantilenas. 80% acham outra coisa, apesar de não dispor dos argumentos favoráveis, porque a imprensa não reproduz as razões das políticas governamentais.
O povo não está de acordo com afirmações que se insiste fazer passar como consensos nacionais, mas que correspondem aos interesses de setores minoritários do país, como as de que “gastar dinheiro com pobre não vale a pena”, de que “o Estado deve cobrar menos impostos”, “o governo deve ter menos participação na economia”, “o governo não deve contratar mais funcionários”, entre outras .
O povo se dá conta de que os gastos com políticas sociais favorecem a grande maioria, promovem a justiça social, um Brasil para todos. O povo percebe que a tributação significa colocar dinheiro nas mãos do Estado para fazer essas políticas, que buscam compensar as desigualdades e injustiças produzidas pelo mercado. O povo sabe que o Estado intervém na economia para promover o desenvolvimento econômico, para distribuir renda, para defender os interesses nacionais. O povo se dá conta de que os funcionários públicos contratados pelo governo são, em sua grande maioria, professores para as escolas públicas, médicos, enfermeiras, dentistas, para o serviço público de saúde, fiscais para controlar as normas de funcionamento da economia e da sociedade em geral, são pessoas para atender aos serviços que o Estado oferece à população.
São duas concepções de Brasil que se chocam cotidianamente na imprensa e o povo tem se decidido, por 80% a 6%, a favor de uma delas, a de um Brasil para todos e não apenas para alguns, como tinha sido ao longo de tanto tempo.
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