quinta-feira, 9 de julho de 2009

O governador invisível

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A política brasileira está produzindo um fenômeno incomum em democracias dignas do nome. Estamos às portas de uma sucessão presidencial. As forças políticas da nação se movem em direção a pré-candidaturas. Nomes apresentam-se ao escrutínio público.

Nas democracias dignas do nome, a imprensa tem um papel importante nesse processo. Cumpre-lhe a missão oficiosa de expor à sociedade as facetas e – se houver – o desempenho anterior ou vigente de homens públicos como gestores quando estes pleiteiam, por exemplo, aquele que é o mais importante posto da República, o posto de presidente.

Algo está errado com o processo político de um país quando o pré-candidato à Presidência da República melhor cotado entre todos (ao menos nas pesquisas de intenção de voto) não aparece no noticiário, não sendo criticado por ninguém.

Ainda mais quando se trata de um governo sobre o qual pairam suspeitas de corrupção e de malversação de recursos públicos por conta de dezenas de pedidos de CPI no Legislativo estadual, o qual não consegue fiscalizar o governo paulista há cerca de quinze anos, exercendo o “direito das minorias” de que tanto fala o partido do governador paulista no Congresso Nacional, onde exige CPIs ininterruptamente contra o governo federal.

José Serra é um governador invisível e faz um governo invisível porque a imprensa de seu Estado, que deveria investigá-lo como governador, e a imprensa nacional, que deveria investigá-lo como candidato à Presidência, optaram por escondê-lo.

Há prazo para essa situação terminar? Há. Ela dura até o início oficioso da campanha eleitoral no ano que vem, que será no fim do primeiro semestre. Então começará um jogo até em melhores condições para os adversários do governador paulista, pois críticas não mais poderão ser ocultadas estando o país em pleno processo eleitoral.

Até lá, a imprensa ficará produzindo acusações ininterruptamente contra a pré-candidatura que mais ameaça Serra, a da ministra Dilma Rousseff, tornando ainda mais impressionante a invisibilidade do governador paulista.

E de fato é preciso escondê-lo. Sobretudo num momento em que fazem tantas acusações ao governo federal e à candidata de Lula à sua sucessão, pois contra Serra pesam escândalos incontáveis que se transformaram em pedidos de CPI na Assembléia Legislativa. A Saúde, a Educação e a Segurança Pública em São Paulo são das piores do país. Enfim, São Paulo não resiste a dez minutos de crítica.

Internamente, o Estado mais rico da federação é controlado com mão de ferro por meio de legítima censura. É impossível criticar o governador paulista na imprensa de São Paulo. Os grandes grupos de mídia paulista e carioca são todos aliados de Serra, e esses grupos controlam o resto da comunicação no Brasil.

Por mais desalentador que pareça esse quadro, porém, há que lembrar que Serra dispunha de todo esse aparato publicitário – ou anti-publicitário – já em 2002 e depois em 2006, e nem por isso conseguiu, respectivamente, vencer a eleição ou viabilizar-se como candidato.

O fato é que, do outro lado, apesar de não se ter mídia, têm-se a possibilidade de governar de forma a satisfazer anseios da população. De alguma forma, a partidarização da grande imprensa obrigou o partido ao qual ela se opõe – bem como ao seu titular – a se superar. E isso porque críticas, inclusive as injustas, acabam obrigando as pessoas a se questionarem, a buscarem sempre o melhor de si para desqualificarem seus críticos.

Isso tem acontecido no Brasil. E é por isso que não podemos ter governos invisíveis. Políticos que anseiam cargos importantes como o de presidente e que não recebem críticas na imprensa de seus adversários ou dessa própria imprensa, sentem-se à vontade para fazer o que lhes der na telha, pois não têm que prestar contas.

Votar no PT é sempre garantia de fiscalização da mídia. Ao menos enquanto perdurar essa situação no Brasil de a imprensa esconder os governos de políticos aos quais se alia, esses políticos se tornam perigosos para a sociedade, pois, se eleitos, farão o que bem entenderem e ninguém conseguirá cobrar explicações deles.

Não vote em políticos invisíveis. Ainda mais quando fazem governos invisíveis.

Bolão "Alguém acusará Serra?"

Ah, e tem mais esta: estou rifando um tour completo pela tucanidade paulistana, com direito a almoço e jantar no Fasano e shop tour na Oscar Freire acompanhado (a) de um sósia de FHC e outro de José Serra, que abrirão portas na Paulicéia ao vencedor que ele jamais suspeitou que sequer existissem (e falo só das portas, nem do que está por trás delas).

Ganhará quem acertar qual será o primeiro veículo do PIG (Partido da Imprensa Golpista) que ousará fazer uma acusação de verdade a José Serra neste ano. Há que votar no veículo e no nome do crítico, podendo ser veículo e editorial, ou veículo e colunista A, ou veículo e colunista B.

E sabem por que lhes prometo o que não posso entregar se alguém adivinhar quem poderia incomodar a Serra na mídia? Simples, porque quanto mais se aproximarem as eleições do ano que vem mais difícil ficará se contrapor a Serra na mídia, ou seja, o que antes não existia, já vai se tornando... impensável.

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Fonte: Eduardo Guimarães - Cidadania.com

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