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Estava almoçando com um amigo banqueiro quando veio a notícia de que o Rio de Janeiro havia sido escolhido cidade-sede das próximas Olimpíadas. Mandou abrir um vinho em comemoração. De manhã, um funcionário dele, em Copenhagem, mandou email informando que na cidade só se falava em Lula, uma euforia completa apenas pela presença de Lula por lá.
No restaurante, as mesas comemoraram pedindo vinhos e champagnes. Nas ruas, uma população orgulhosa do feito brasileiro. No Blog, centenas de comentários de leitores orgulhosos de serem brasileiros, finalmente orgulhosos de serem brasileiros, repito.
Chego no escritório, ligo a Internet e procuro o vídeo com o discurso de Lula, defendendo a candidatura do Rio e, depois, com Lula com os olhos marejados falando de sua maior especialidade: o modo de ser brasileiro. Tecendo loas ao Brasil, ao Rio, à ginga, à alma brasileira.
E me espanto de como é possível que parte da opinião pública ainda não tenha se dado conta da dimensão política global de Lula. Ele se tornou um dos governantes paradigmáticos do maior processo de transformações que a humanidade atravessa desde o pós-guerra.
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A população pobre, que era custo, hoje se tornou o grande ativo dos emergentes China, Índia e Brasil. Lula representa não apenas a história de sucesso do operário que chegou a presidente. O polonês Lech Walesa também teve esse papel e não passou de mera curiosidade histórica. Já Lula tem desempenhado um papel civilizatório inimaginável.
Assumiu um país exaurido pela insensibilidade social, liderando um continente propenso a exageros populistas históricos, como contraposição aos exageros liberais. Globalmente, o fracasso das políticas neoliberais projetou uma sombra de xenofobia, intolerância e radicalização sobre todos os continentes.
Foi nesse ambiente propício à radicalização que Lula projetou sua imagem de pacificador, de agente do processo civilizatório mundial.
Com a mesma bonomia com que trata seus adversários políticos no Brasil, ou como tratava os peões de fábrica no ABC, ajudou a criar uma alternativa democrática no continente, orientando Evo Morales, contendo os arroubos de Hugo Chávez, tornando-se a esperança do Ocidente de manter uma porta aberta com o Irã.
Quando leva Obama para uma sala para explicar, em um bate-papo, como agir no caso do Irã, o severino retirante se despe de toda liturgia do cargo, dos tremeliques da diplomacia, usa a linguagem tosca e direta com que as pessoas normais se comunicam e ajuda a desenhar a nova diplomacia mundial. E com a cara do Brasil, a afetividade do Brasil, alisando as pessoas, tratando-as com o carinho brasileiro.
Na coletiva que deu após a escolha do Rio, a profissão de fé no Brasil entrará para a história. O orgulho de ser brasileiro, o “sim, nós podemos” entra definitivamente para o repertório brasileiro do século 21, do mesmo modo que JK empurrou o país com seu otimismo e sua genuína crença no valor do brasileiro.
Daqui a vinte anos, quando o país estiver definitivamente entronizado no panteão dos grandes países do mundo, será mais fácil avaliar a verdadeira dimensão de Lula, como o grande timoneiro dessa travessia.
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