quarta-feira, 31 de março de 2010

Eduardo Guimarães - Essa luta precisa de foco






 



Foi uma surpresa a descoberta de que a Polícia Militar de São Paulo infiltrou um “agente” entre os professores que vêm protestando contra o governo José Serra, mas essa foi só a última gota para se concluir que o candidato do PSDB à Presidência da República e o seu aparato propagandístico constituem uma ameaça à democracia.

Enquanto Serra e seu grupo político se limitaram a usar Globos, Folhas,Vejas e Estadões para acusar adversários e defender suas posições contra o governo Lula, não era nada. O problema é que agora, não contente em calar seus adversários, o proto-ditador paulista está partindo para a violência e para a intimidação jurídica.

Os professores em passeata não ameaçaram a integridade de nada nem de ninguém, mas isso não impediu o governador do Estado de mandar a PM espancá-los simplesmente por exercerem o direito constitucional de reunião e de manifestação.

Se a manifestação dos professores fosse reprimida na Venezuela ou se o governo Lula reprimisse manifestação de alguma entidade contra si, as concessões públicas de mídia eletrônica e a imprensa escrita chamariam as repressões de “ditatoriais”.

Mas, além do espancamento de professores por sua polícia, agora o governador paulista decidiu tornar ilegal a sociedade civil se organizar e protestar contra ele, conforme dá conta a imprensa ao noticiar que o PSDB irá à Justiça Eleitoral contra a Apeoesp e outros sindicatos que eventualmente decidam ir à rua para protestar contra os baixos salários do funcionalismo estadual.

Chega-se, pois, à incrível situação de Serra atacar o sindicalismo exatamente como o regime militar atacava, usando violência física e proibições judiciais contra manifestações.

A imprensa, que simplesmente não expõe Serra de forma nenhuma e que se recusa a veicular qualquer questionamento direto a ele, acusa os sindicatos de serem “petistas”, como se um dirigente sindical ser vinculado a um partido político fosse crime.

Ao mesmo tempo em que a Justiça Eleitoral, intimidada pela mídia de Serra, multa o presidente Lula por supostamente “fazer campanha antecipada”, e ao mesmo tempo em que a mesma mídia acusa o mesmo presidente da mesma coisa, o governador paulista não sai da tevê fazendo campanha eleitoral escancarada e ninguém diz nada. Isso sem falar na propaganda do governo de São Paulo em outros Estados, que até hoje permanece impune.

Se o PSDB denuncia os sindicatos à Justiça porque eles receberiam dinheiro público para se contraporem a Serra, por que o PT também não processa a mídia, que também recebe muito dinheiro público, por fazer campanha eleitoral em favor do governador ao blindá-lo contra questionamentos públicos e ao lhe defender cada uma das teses enquanto acusa seus adversários?

Agora vamos transpor essa situação para um eventual governo federal presidido por Serra. Imaginem um governo que a mídia se recuse a questionar como acontece em São Paulo. Ao mesmo tempo, essa mídia voltará suas baterias contra a oposição tachando suas ações de sabotagens ao país exatamente como fazia quando FHC governava.

Em um governo desses, quem sair à rua para protestar contra alguma coisa, além de apanhar da polícia ainda será processado na Justiça e difamado pela mídia. Para mim, portanto, o Brasil mergulhará em uma autêntica ditadura. E como não pretendo assistir calado ao nascimento de uma ditadura, quero fazer um alerta.

Sindicatos como a Apeoesp têm um incrível poder de mobilização, mas desperdiçam tempo fazendo atos públicos contra Serra porque, sob a desculpa de “defender o governador”, a Polícia dele parte para a agressão e sua mídia esconde essas manifestações.

É aí que me lembro do Movimento dos Sem Mídia, ONG fundada com leitores deste blog em 2007. Várias vezes conseguimos reunir algumas centenas de pessoas. Imaginem vocês se a Apeoesp e outros sindicatos tivessem se juntado ao ato contra a Ditabranda da Folha e colocado dezenas de milhares de manifestantes na Barão de Limeira...

Onde estavam esses sindicatos em um momento em que poderiam ter denunciado que a mídia serve a Serra? E por que ainda não fizeram uma grande manifestação contra a Globo e o resto por esconderem os protestos dos professores ou por deturparem e mentirem sobre ele, transformando reivindicações justas em meras ações políticas e até “ilegais”?

Vivemos um momento um tanto quanto assustador, no Brasil. Um governo nacional presidido por Serra se converterá em uma verdadeira ditadura e tenho a impressão de que o PT, o presidente Lula e a ministra Dilma não estão sabendo avaliar corretamente o risco que o governador de São Paulo representa para a democracia.

Em minha opinião, a sociedade civil organizada deve ocupar as ruas para protestar contra o uso político de concessões públicas de rádio e tevê em favor da candidatura de José Serra à Presidência da República. Se conseguíssemos colocar na rua aquelas dezenas de milhares de pessoas que se viu na avenida Paulista, em São Paulo, só que protestando contra a mídia, as coisas começariam a mudar neste país.

Mas quem viria conosco? Será que Apeoesp, CUT e tantos outros abririam mão do protagonismo em favor de uma manifestação contra a mídia que não pudessem vincular a partidos? Se o MSM, que não tem qualquer ligação partidária, convocasse um ato público exclusivamente contra a mídia, será que conseguiria fazer o que fez a Apeoesp em São Paulo nas últimas semanas?

Entidades como a dos professores precisam entender que a força de Serra está na mídia. É ela que lhe permite manter CPIs bloqueadas e criminalizar movimentos sociais e reivindicações justas como a do funcionalismo.

Se não houver foco sobre quem combater, o país correrá o risco de ser atirado em um regime no qual protestar será coibido por métodos que nada deverão aos da ditadura militar em que a mídia atirou o Brasil há 46 anos. Afinal, ninguém pode garantir que as armas midiáticas da direita não surtirão efeito novamente.

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