sábado, 27 de março de 2010

Desabafo de um Mestre!






Esse ano não recebi bônus. Motivo? talvez as minhas 15 faltas do ano passado. Mas minha questão não é receber bônus e sim, discutir algo mais profundo. Faltei sim, pois, como estudante de mestrado e PESQUISADOR em educação estava participando de vários congressos. E participei com muito orgulho de ser PROFESSOR da rede pública. Participei de cursos, com gente importante, fui aceito em congressos, simpósios, grupos de pesquisas ...enfim, arrebentei minha cabeça de tanto pensar a educação. Do ponto de vista acadêmico, estou feliz. Mas agora a pergunta: o que isso acrescenta na minha carreira profissional? Todas as faltas - que eu tentei justificar como formação - foram descontadas.

Poxa vida! Não dizem que o professor da escola pública é péssimo? Pois então quando provo publicamente minha competência qual o retorno de tanto esforço?
( Sem contar o esforço em sala de aula!) Faltas descontadas, nenhum reconhecimento por conta disso, silêncio. Nenhum incentivo. Voltava dos congressos com mais vontade, louco para socializar meus conhecimentos novos, minhas descobertas. Tenho um posicionamento ético frente minhas faltas: faço questão de dar um retorno para minha escola e comunidade, primeiramente com meus alunos, em sala de aula, e depois, por meio daquilo que venho chamando de formação continuada dentro da escola, oferecendo palestras, mini-cursos, depoimentos onde eu possa repassar aquilo que tenho vivenciado e aprendido. Faço isso com muito prazer. Mas não é fácil: isso tem um custo mental, financeiro, emocional.

As coisas não param por aqui, pois a última é a seguinte:

Submeti um trabalho para um congresso de arte e educação a ser realizado na Finlândia. Meses depois recebo uma carta de aceite. Isso é besteira? Um professor da escola pública tem seu trabalho aceito para um congresso internacional na Finlândia! Será que esse professor não tem nada a aprender na Finlândia cujo sistema de ensino é considerado um dos mais avançados no mundo? E porque será que esse professor da escola pública brasileira, por sua vez, foi aceito para apresentação de trabalho nesse país?

Qual o retorno disso tudo? Você imagina o que me sucede quando abro meu holerite e vejo lá: Faltas: 5. Penalizado porque estava no Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação em EDUCAÇÃAAAAAAOOOO!!!!


Ok, sou pago para estar em sala de aula. E não para participar de congressos...alguém poderia facilmente calar minha boca. Sinceramente, não ligo para os descontos dos dias não trabalhados...( me fazem muita falta! ) mas eu só queria que isso pudesse ser aproveitado de alguma maneira, sei lá, pontos, honra ao mérito...

Sabe...ai eu penso no meu aluno...que talvez o relatos das viagens, o sabor de novas terras conquistadas por causa do estudo, talvez isso o estimule a estudar mais...que eles percebam que estudar vale à pena...

Penso que meu aprimoramento como intelectual e profissional da educação é meu modo de protestar. Eu penso a educação, produzo conhecimento...se isso tem algum valor aqui, não sei... sei que, pelo menos o "Rovaniemi-Lapland Congresses University of Lapland" reconhece esse fato...

Torno público tudo isso ou me calo de uma vez por todas?


Professor Anônimo com receio de retaliações por parte do Sr. José Serra.

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