sábado, 27 de fevereiro de 2010

UMA VISÃO DO PAC EM MANGUINHOS


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Lula e Cabral doando laptops na inauguração do conjunto habitacional em Manguinhos. Não chegava a 100 o número de moradores presentes. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.

No dia 21 de dezembro do ano passado foram inauguradas algumas obras do PAC em Manguinhos, com a presença do presidente Lula, de ministros, do governador e do prefeito do Rio de Janeiro. Das quinze favelas que compõem o complexo, onze serão beneficiadas pelas intervenções. A maior parte está concentrada na Av. Dom Hélder Câmara, no Depósito de Suprimentos do Exército, que estava desativado, e onde foi construído um conjunto habitacional com cinco blocos, com dois prédios de quatro andares cada e apartamentos de dois quartos: 416 moradias no total.
Para os moradores, a prioridade é que os primeiros andares sejam destinados aos idosos e pessoas com deficiência, em função da ausência de elevadores. Lá estão sendo realocadas pessoas das comunidades Embratel e Mandela de Pedra, que tiveram suas casas derrubadas por estarem em área de risco ou no caminho da construção de novas vias de acesso.
A reportagem ouviu 100 moradores no Complexo do Manguinhos, procurando  equilibrar as entrevistas entre jovens, adultos e idosos, assim como variando o sexo. Também tivemos o cuidado de ouvir as pessoas em diferentes pontos da comunidade, de modo a garantir maior diversidade de opiniões. O resultado foi o seguinte: o PAC teve a aprovação de 77 moradores na comunidade. Em geral, há muita esperança e ceticismo em relação ao projeto do governo.
Segundo a Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro, “no Complexo de Manguinhos os investimentos chegam a R$ 290 milhões. Além das moradias e os equipamentos que foram inaugurados, na comunidade da Embratel e na CCPL serão erguidos novos conjuntos habitacionais, totalizando 1774 apartamentos construídos pelo PAC Manguinhos. A elevação da via férrea permitirá a criação de um grande parque urbano no local, com quadras esportivas, pistas de skate, áreas de convivência e quiosques”, declararam.
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As pessoas presentes no dia da inauguração do conjunto habitacional, com algumas das moradias ao fundo. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.

No dia da entrega, ao entrarem nos apartamentos inaugurados, alguns moradores criticaram o tamanho das unidades. Ao contrário do que foi divulgado, 42m², alguns afirmaram que os apartamentos têm algo em torno de 30m². Uma senhora se queixou: “Onde vamos estender as roupas?”. Teve morador que disse que com esse tamanho as pessoas não terão espaço para intimidade, e assim a população pobre não aumenta. O processo de ocupação durou cerca de um mês, sem nenhum suporte na mudança, gradativamente por blocos, cujos apartamentos foram medidos e constatados em 37m². Mas para as pessoas que moravam em casas de palafita na beira dos rios, como acontece na Mandela de Pedra, trata-se de uma melhoria de vida considerável. Esse foi um elogio recorrente.
A casa-modelo de 72m² que foi apresentada no início do projeto, que ficava na entrada do conjunto, foi demolida. Os moradores já estabeleceram o seu modo de organização, um síndico por bloco e um síndico geral. Ao todo são três reuniões por mês, uma no bloco, uma geral e outra com o consórcio responsável por grande parte das obras na região e em especial nessas moradias: Consórcio Manguinhos, composto por Andrade Gutierrez (60%), EIT (20%) e Camter (20%). A Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP) gerencia o processo.
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Crianças brincando no vão central do conjunto habitacional, meses depois da inauguração. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.

Conversando com alguns síndicos, certas normas foram apontadas para preservar a ordem no local. Foi proibida a utilização da moradia como comércio, sobretudo qualquer tipo de aluguel, mas quem quiser usar sua casa para alguns biscates não tem problema: o comércio é distante, alguns moradores já vendem refrigerantes, biscoitos, sacolé, etc. em apartamentos no térreo. A partir do segundo andar para cima, moradores podem colocar suas roupas nas sacadas, no térreo foi permitida a utilização do vão atrás do prédio desde que evitando a exposição de roupas íntimas.  O único problema que apareceu, dois meses depois da inauguração, foi briga entre famílias. Há uma proposta de gradear os prédios, e colocar uma guarita na entrada do conjunto, como prevenção a possíveis roubos – estes, não ocorreram. A lei do silêncio, às 22h, está sendo respeitada.
No dia da inauguração foram sorteados 5 laptops, entregues pelo presidente. Instalaram internet sem fio no local, mas, segundo relatos dos moradores, só funciona de maneira instável a partir das 18h quando os postes de energia são ativados. Praticamente ninguém tem internet, alguns usam o celular. Muitos moradores estão esperando computadores que, segundo eles, foram prometidos. No resto das instalações, não ocorreu nenhum problema com a luz e encanamento, disseram.
Além das moradias, também já foram entregues uma unidade de saúde, uma escola estadual, um parque aquático, quadras poliesportivas, uma biblioteca pública multifuncional, um Centro de Geração de Renda, o Centro de Apoio Jurídico e o Centro de Referência da Juventude. Mas nem tudo está funcionando até hoje, como é o caso da biblioteca por exemplo.
As três creches em construção, uma delas pronta, mas não inaugurada, também se encontram espalhadas nos arredores do Complexo de Manguinhos. Segundo o professor de geografia dessa escola estadual, Gilson Alves, morador e integrante da Comissão de Moradores da comunidade Vila Turismo, o novo espaço já beneficia muitos jovens com seus três turnos para os ensinos fundamental e médio. Mas Gilson tem várias críticas ao PAC, principalmente no que diz respeito à ineficiência na aplicação das verbas e na realização das obras em relação ao que foi proposto no início do projeto.
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Retroescavadeira para as obras de pavimentação na região central de Manguinhos, onde ainda há casas de palafita e muito entulho jogado nas ruas. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.

Comerciantes de Manguinhos criticaram as obras do PAC, principalmente devido aos critérios de avaliação do governo – que não levam em conta o tempo do ponto no local. É o caso de Luiz Fernando, no Parque João Goulart, que está negociando para não perder sua venda por um valor que não compensa. O projeto inicial do PAC anuncia áreas para o comércio popular, mas até agora muitos comerciantes não têm nenhuma informação a respeito.
Segundo Ícaro Moreno, presidente da Emop, “agimos de forma extremamente democrática, num trabalho de convencimento feito por equipes especializadas de Diagnóstico Social, para obter a compreensão da população atingida. Esse trabalho foi desenvolvido em duas vertentes principais: primeiro, que era preciso a relocação, para benefício de toda a comunidade, com a construção de equipamentos sociais. Segundo que, para isso, o Estado oferecia três opções para nova moradia – a transferência para novas unidades, indenização ou compra assistida”, afirmou.
Quanto à saúde, muitos moradores se queixam da falta de médicos na unidade de saúde recém inaugurada, que é uma das maiores no estado. A instalação, segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, está equipada com consultórios de pediatria, clínica médica e odontológica, farmácia, laboratório para a realização de exames e salas de raios-X, sutura, medicação e nebulização, além de 24 leitos. A reportagem testemunhou um pai saindo com o filho no colo sem atendimento, às 20h, por falta de pediatras.
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Construção da linha férrea, nas proximidades da estação de trem do Manguinhos. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.

A obra principal será a elevação da via férrea que corta a comunidade ao meio: a mão dupla da Av. Leopoldo Bulhões será divida em duas pistas, para a construção de um Parque Metropolitano com áreas de lazer por debaixo dos trilhos entre a Av. Leopoldo Bulhões e a Rua Uranos. Segundo trabalhadores da obra, a via ligará Benfica, por trás do conjunto habitacional, até a linha amarela em Bomsucesso.
Outros serviços, como asfaltamento das ruas e saneamento, também estão em andamento. A principal crítica dos moradores foi a instalação dos esgotos, que reaproveitou o sistema de água construído pelos moradores na formação da comunidade: vai tudo para o mesmo lugar, exceto os rios que também estão em obras. Quando chove, disseram, continua entupindo tudo. Moradores que trabalham em obras apontaram inadequações no projeto, como a utilização de canos pequenos, o que deverá apenas postergar os problemas.
A falta de informação e diálogo foi constante nos relatos, pois muitos não sabem o que vai acontecer, apesar do Comitê de Acompanhamento das Obras criado pelo governo com algumas lideranças locais se reunir com freqüência; para alguns, é um instrumento de cooptação, chapa branca. Algumas comunidades estão articuladas, criaram Comissões de Moradores, além das associações, todas as terças se reúnem na Fundação Oswaldo Cruz, vizinha de Manguinhos, para debater o PAC.
Para muitos, pior não poderia ficar, já que Manguinhos nunca foi alvo de políticas  públicas. O principal elogio foi a geração de empregos – o PAC empregou cerca de duas mil pessoas nas obras, com remuneração entre um e três salários mínimos, incluindo muitas mulheres. A diminuição de operações policiais na região, por conta das obras, foi outra avaliação positiva recorrente. As pessoas que moram na beira dos rios Timbó e no Canal do Cunha, por exemplo, vão ter uma moradia decente em comparação com às que moravam.
(*) Com informações da reportagem de Marcelo Salles, na edição de fevereiro da revista Caros Amigos.

6 comentários:

  1. Acho que a remoção do parque joão gulart está demorando muito pois nossas casas estão rachadas, estamos sofrendo com as enchentes e não podemos fazer obras,queremos ser removidos, já se passou três meses e não temos noticias nenhuma

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  2. O Brasil está vivendo um problema crônico na execução de obras publicas, como diz o próprio Lula, nunca na história desse país houve tantas obras ao mesmo tempo, empreiteiras estão tendo que adiar projetos, ou dedicar-se exclusivamente a alguns que geram mais recursos, pois são visivelmente eleitoreiras, em prol de outras menos visíveis e importantes. Infelizmente nós estamos no Brasil, republica das bananas, mas fique tranquilo, muito em breve a obra deve sair.

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  3. Eu moro no cj. dos Ex Combatentes, nós aqui não temos noção do que vai acontecer dentro do nosso cj existem casas ao redor que ninguem sabe se vai sair ou não quem pode nos esclarecer.Meu Pai foi a Segunda Guerra Mundial,o que a nossa Patria concedeu a ele foi comprar um apt. para pagar. em 20 anos no Bairro de Benfica que agora virou Manguinhos,para voces não faz diferença, mais preencha um curriculo com o novo bairro e vc sentira a diferença .
    Existe o UPA legal, mas se vc passar mal a noite,não vá porque será assaltada , segurança não existe.

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  4. Concordo plenamente, com o anonimo acima

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  5. gostaria muito de saber se por caso as familias que tem suas casas a beira do rio sentido a Dom Elder Camara para Leopoldo Bulhoes irao sair para os apartamentos ou irao ser indenizadas. sou morador da rua maravilha que fica a eira do rio atras de uma igreja evangelica

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  6. OLÁ PARA TODO... O NOSSO BRASIL É TÃO RICO QUE BASTA ABRIR ÀS MÃOS E A TERRA NOS DIRÁ SOBRE ESTA MULTIPLICAÇÃO. NÃO DEVEMOS NOS ASSUSTAR C/TANTAS OBRAS, TEMOS QUE PENSAR QUE ISTO SÓ É 1% E SIM, TEMOS QUE ALCANÇAR UMA META DE 10 A 20 PORCENTO AO ANO E ACELERAR O CRESCIMENTO DO PAÍS CADA VEZ MAIS. TODOS BEM EMPREGADOS NÃO TERÁ A NECESSIDADE DE DAR MORADIA, FAÇAM PELO SEU ESFORÇO É MAIS SABOROSO LUTAR DO QUE GANHAR E ESPERAR O BRASIL DAR DE MÃO BEIJADA.OBRIGADO.

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