sábado, 2 de janeiro de 2010

Azenha - SÃO PAULO É TÃO BOM QUE NEM PARECE O BRASIL




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por Luiz Carlos Azenha

Na enxurrada de comerciais de campanha que aparecem na televisão, todos ainda de propaganda indireta -- sejam os favoráveis à ministra Dilma, sejam os favoráveis ao governador Serra --, um me chamou especialmente a atenção.

É de uma senhora que, dentro de um automóvel, confunde a Itália com Itatiba, no interior de São Paulo. Pelo que mostra o anúncio, a família viaja pela rodovia Dom Pedro I em direção a Itatiba.

Vamos atribuir à licença criativa dos publicitários a ideia esdrúxula de que uma mulher não saiba distinguir entre o Brasil e a Itália. Bebeu? Ou mulher é assim mesmo, nem sabe onde anda? Ou mulher idosa é assim mesmo, vive em outro planeta? Temos embutidos aí dois preconceitos -- contra as mulheres e os idosos -- ou vai ver que as estradas do governo paulista são encantadas e provocam distúrbios mentais.

Nem é preciso dizer que a viagem completa pela rodovia, de Jacareí a Campinas, 145 quilômetros, custa ao usuário 16 reais em pedágios (que, obviamente, não aparecem no comercial). Isso dá 11 centavos de real por quilômetro rodado, uma tarifa de primeiro mundo.

Na A1, que liga Milão a Nápoles, o pedágio custa o equivalente a mais ou menos 14 centavos de real por quilômetro rodado.

Vamos deixar de lado alguns "detalhes": hoje, 76% das pistas mantidas pela concessionária da A1 são cobertas pelo asfalto poroso, que facilita o escoamento da água de chuva, reduz a formação de lâmina d'água, reduz o spray que os carros e caminhões atiram no párabrisa alheio e aumenta a aderência dos pneus ao pavimento. Isso reduz o número de acidentes. Bobagem exigir isso das concessionárias no Brasil, especialmente em um país onde não chove, né mesmo?

Meu ponto é que pagamos preço de primeiro mundo por estradas que não são exatamente de primeiro mundo, especialmente se você considerar as estradas mais antigas, como a rodovia Marechal Rondon, por exemplo. Como mostrei recentemente, uma viagem São Paulo-Bauru-São Paulo, que usa parcialmente a Rondon, custa 13 centavos de real por quilômetro rodado.

Mas não era exatamente aí que eu queria chegar. O que me chamou a atenção no comercial de Itatiba é a ideia que fica subentendida: São Paulo é tão bom que nem parece o Brasil. O comercial tira proveito da famosa síndrome de viralatas. Vamos melhorar deixando de ser brasileiros. Vamos melhorar nos tornando europeus. Podemos dizer, aliás, que somos melhores que os italianos: ganhamos salário de brasileiro e pagamos pedágio de europeu.


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