sábado, 3 de abril de 2010

A ‘pequena revolução’ de Lula




Presidente Lula discursa durante cerimônia de encerramento da 1ª Conferência Nacional de Educação – Fotos: Ricardo Stuckert / PR

Luiza Damé – O GLOBO

BRASÍLIA
Ao falar no encerramento da Conferência Nacional de Educação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem avanços no ensino brasileiro a greves do magistério — justamente num momento em que o estado de São Paulo, comandado pelo tucano José Serra, enfrenta uma paralisação e protestos de professores organizados por um sindicato ligado ao PT. Lula e o ministro da Educação, Fernando Haddad, defenderam a fixação de um política de remuneração dos professores em todo o país e criticaram os estados que resistem em implantar o piso de R$ 1.024 para a rede pública de educação básica.
— Por (saber) ouvir é que nós fizemos essa pequena revolução que se iniciou na educação brasileira. E isso se deve ao mérito e à compreensão deste companheiro (Haddad) e da equipe dele, porque um técnico não ganha jogo. Ele precisa de bons jogadores e da torcida organizada, que são os educadores deste país, que vão à luta, que brigam, que exigem, que fazem greve, que negociam, mas que, muitas vezes, não são valorizados — afirmou Lula.
Durante a greve em São Paulo, houve confronto entre a polícia e os professores, provocando desgaste político para o governador José Serra, que hoje deixa o cargo para entrar na disputa pela Presidência da República, na qual terá como adversária direta a petista Dilma Rousseff. Ontem Lula criticou os estados que não aceitam o piso salarial dos professores — que vale para uma jornada semanal de 40 horas, sem a exigência de diploma de curso superior. Alguns estados recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar o pagamento do piso, que foi considerado constitucional pelos ministros. O piso foi fixado a partir da criação do Fundo de Valorização do Ensino Básico (Fundeb).
— Eu não me conformo que alguém ache que um piso de R$ 1.020 é alto para uma professora que toma conta dos nossos filhos dentro da sala de aula — disse o presidente.

“Remuneração faz parte da qualidade”

Haddad sugeriu — e Lula concordou — a implantação de uma mesa de negociação de uma política nacional de reajuste do piso salarial, a exemplo do que aconteceu com o salário mínimo.
Para o ministro, representantes do governo federal, dos estados, dos municípios, dos trabalhadores em educação e dos empresários devem se reunir para definir normas de aumento do piso nos próximos anos.
Para Lula, a remuneração dos professores é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino.
Segundo ele, acabou o sonho de ser professor cantado em música, porque a carreira do magistério foi sucateada nos últimos 30 anos: — Não é possível a gente depositar a confiança em um professor ou em uma professora para tomar conta dos nossos filhos, sabendo que, no final do mês, ele não vai levar para casa sequer o suficiente para cuidar da sua própria família.
No discurso, muito aplaudido por professores e estudantes que participaram da conferência, Lula citou programas de seu governo, como Fundeb, ProUni (que concede bolsas para estudantes carentes nas universidades privadas) e Reuni (programa de investimento nas universidades federais), além da construção de universidades e escolas técnicas. Lembrou que em seu governo foi implantado o programa de qualificação dos professores.
— A remuneração faz parte da qualidade da educação, não são separadas as duas coisas — disse.
Lula voltou a dizer que, embora nem ele nem o vice José Alencar tenham diploma de curso superior, seu governo foi o que mais investiu em educação.

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