sexta-feira, 2 de abril de 2010

Eduardo Guimarães - O despertar dos sindicatos


Manifestantes vaiam equipe de reportagem da Globo na Av. Paulista, em SP



Nesta quarta-feira, Marcos me liga logo cedo no celular. Estava satisfeito porque iria participar da manifestação do funcionalismo público contra Serra que ocorreria no vão livre do Museu de Arte Moderna de SP, o Masp, no período da tarde.
Pareceu-me ter esperança de que eu fosse com ele, mas eu não podia e lhe disse logo. Elegantemente, não chegou a pedir que eu fosse por certamente ter percebido que não me seria possível. E continuou, dizendo que mais tarde me ligaria para contar mais.
Parecia uma criança, de tão contente, apesar de seu cerca de 1,9 metro de altura e uns bons cem quilos.
Marcos é policial militar. Tem mais ou menos a minha idade cinqüentenária É um sujeito honesto e companheiro filiado ao Movimento dos Sem Mídia. Compareceu a todos os atos que a ONG que presido promoveu.
O companheiro comenta quase todo dia neste blog desde 2006. Mas não é só isso. Estudou jornalismo, nos últimos anos, formou-se e passou a fazer um jornal custeado, em boa parte, por ele mesmo. O resto, arrecada entre colegas aos quais vende exemplares.
Mais tarde, por volta das 18 horas, Marcos me liga de novo. Estava eufórico:

-- Edu!, Edu!, falamos tudo na cara “da Globo”, cara!, e eles ficaram bravinhos e foram embora. Cantamos ‘O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo’ pra eles, Edu!

No meio da noite, meu amigo de vida humilde e trabalho honesto me faz ver que na Polícia “do Serra” ou em qualquer corporação ou agrupamento ou associação de humanos de filosofia cidadã sempre haverá os bons e os maus.
Marcos é um grande funcionário público e não é filiado a partido nenhum. Atua na PM arriscando a vida para defender a sociedade. É um homem que tenho orgulho de chamar de amigo, ainda que nos conheçamos tão pouco.
No meio da noite, porém, encontro a seguinte nota escondida nas entranhas do Portal UOL.

Servidores de SP hostilizam jornalistas em manifestação contra Serra
MÁRCIO NEVES
Folha Online
31/03/2010 - 16h19
Jornalistas de diversos veículos foram hostilizados hoje por servidores de São Paulo durante manifestação na avenida Paulista contra o governador José Serra (PSDB). Alguns chegaram a jogar garrafas de plástico contra uma equipe da TV Globo.
Policiais militares tiveram de intervir e a equipe da Globo foi levada para uma base da PM na região.
Quando ainda estavam concentrados no vão livre do Masp, os manifestantes diziam que a imprensa protegia Serra.
Para uma repórter da Record, que perguntava para motoristas parados no trânsito o que achavam do protesto, eles reclamaram da falta de cobertura do movimento.
Na maioria das vezes os sindicalistas diziam que a imprensa era tucana e não tinha coragem de cobrir a manifestação do funcionalismo público.
O link ao vivo da Rede Globo deixou o local após os manifestantes gritarem palavras de ordem e baterem no carro da emissora.

Obrigado, Marcos. Vendo Serra no Jornal Nacional, que faz apologia ao tucano descaradamente enquanto escrevo, só posso agradecer a vocês por terem ido ao Masp e dito à Globo o que eu fiquei morrendo de vontade de dizer.




Marcus Leandro: ‘Ninguém hostilizou a imprensa’ 




Marcus Leandro é filho do meu amigo policial acima mencionado. Reproduzo, abaixo, o texto que escreveu sobre a tal “hostilização de jornalistas” no “bota-fora” de Serra em São Paulo.


Cerca de 50 mil professores compareceram à Av. Paulista para protestar contra o critério de reajuste salarial, bem como as diretrizes educacionais do governo paulista (exame de mérito, salas com 60 alunos, 100 mil professores sem concurso, etc.). No jornal da Record de hoje (31), edição nacional, a repórter Creisla Garcia só viu oito mil.
O ponto alto da manifestação dos educadores ficou por conta da cobrança que fizeram aos repórteres da Rede Globo, no Trianon, com respeito ao noticiário mentiroso e cheio de maldades contra a classe que a emissora leva ao ar todos os dias, passando a sensação à sociedade de que a greve dos professores teria motivação política.
A emissora global foi acusada pelos manifestantes de estar a serviço de um governo fascista ou que Serra seria a volta da ditadura. Sem ter o que argumentar, a repórter e demais membros da equipe se refugiaram na Base da PM em frente ao parque, sendo protegidos por um cordão de policiais.
Não havia motivo para a fuga, uma vez que os manifestantes sequer chegaram perto dos profissionais da mídia, limitando-se apenas a cobrar seriedade jornalística.
Minutos depois, os educadores resolveram seguir pela Av. Paulista em direção à Praça da República.
Na Praça, o momento máximo. Um carro da reportagem da Rede Globo estava estacionado estrategicamente e cercado por diversos policiais. Mais uma vez, os manifestantes fizeram cobranças sobre as reportagens tendenciosas e carregadas de fantasias. Palavras de ordem foram proferidas: "Rede Globo, pode cair fora" ou "O povo não é bobo abaixo a Rede Globo". O motorista ligou o carro e, sob vaias e gestos para ir embora, deixou a praça.
Todavia, um ponto chamou a atenção: não se via uma faixa acusando a mídia de ser partidária. Essa conversa nós tivemos com alguns professores, que prometeram levar ao conhecimento da direção das entidades de classe.
Pelo pouco que se conversou ali, não está afastada a hipótese de os professores começarem a mirar na mídia as próximas manifestações (sem esquecer o agora governador). 

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